“Trata-se de um faroeste sobre o terceiro mundo”

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A abertura dos trabalhos na noite chuvosa de sábado foram com incenso e Rubro Zorro – candidata a pseudo hit do disco junto com Receita para se fazer um Herói. Trechos em preto e branco do longa metragem O Bandido da Luz Vermelha de Rogério Sganzerla no telão atrás do palco e iluminação vermelha deram o tom da faixa que abre o disco e o show. Uma canção que cita o criminoso esquizofrênico mais famoso no nosso país subdesenvolvido dos anos 60 que foi preso aqui na nossa capital.


O lp Psicoacústica com óculos 3d e o encartão

Ouvir na íntegra, ao vivo e na sequência esse disco (no meu caso long play da época, que veio com óculoszinho 3d de papel e suas lentes vermelha, azul ou verde, já autografado em algum momento da trajetória pelo quarteto clássico), foi deveras curioso e engraçado.

 

Foto de divulgação do lançamento com a formação clássica: Edgard Scandurra, Marcos Nasi Valadão, Ricardo Gasparini e André Jung

Curioso porque só me toquei agora, rascunhando essas linhas, que esse lançamento é quase um ep. Para muitos é o revolucionário, melhor e mais experimental disco da banda e tem apenas 8 canções! Incompreendido pela gravadora, mas elogiado pela imprensa e inspirador para músicos como Chico Science, Psicoacústica é um disco que não pode faltar na coleção de um amante do rock nacional.

 

Engraçado porque o primeiro set da noite foi esse lado b da carreira de um disco potente porém complexo, com já consagrados rocks pesados para uma banda pop como as pedradas psicodélicas Manhãs de Domingo, Pegue essa Arma (minha canção preferida do disco e da carreira!) e Farto do Rock’n’Roll, somados a temperos de rap, maracatu e reggae com Advogado do Diabo e Receita para se fazer um Herói e as leves medidas na delicada balada mod Mesmo Distante que fecha o disco.

O comunista Nasi fazendo arminha em Pegue essa Arma vai muito além de qualquer leitura rasa e covarde da política mais recente.


Demorou pro lado moleque do Nasi disfarçar a intenção dos seguranças e convencer os curitibinhas a saírem de suas poltronas confortáveis do teatro e virem ficar em pé na encruzilhada da boca do palco.

Mas isso só aconteceu na metade do segundo set com o inegável hit O Girassol, que o povo saiu da zona de conforto e foi ferver o ki-suco com Scandurra e o frontman do balacobaco. Essa parte do show foi praticamente com algumas pérolas que fizeram a banda se projetar Brasil afora com extensa tour do Acústico MTV: Flores em Você, Tarde Vazia, Flerte Fatal, Pra Ficar Comigo, Vida Passageira, Eu Quero Sempre Mais, Envelheço na Cidade e por fim, a já quarentona Núcleo Base.

Nasi dedica a noite especial aos amigos da banda curitibana Relespública e os 20 anos do clássico lançamento As Histórias são Iguais e Scandurra emenda que aqui é terra da Reles e também das ótimas Cigarras e Escambau.

O bis, que chamei de terceiro set, foi uma homenagem ao estilo que mais se encaixa na banda pop mais rocker que se tem notícia nesse mainstream nacional. Black Sabbath (música e banda), Bebendo Vinho de Wander Wildner e fecharam a noite com O Bom e Velho Rock’n’Roll do disco Entre seus Rins.

 

Mr. Scandurra é o compositor mais gentleman do BRock

No tchau aos fãs que estavam com seus celulares registrando tudo em fotos e vídeos, um deles alcançou pro Nasi um lp do Psicoacústica pra ele autografar, que rapidamente atendeu e fez sinal pro Scandurra autografar também.

Se valeu a pena sair com o tempo brocha que tava e atravessar a cidade para vê-los?

Valeu sim! Saber que minha banda preferida sobreviveu ao desdém da gravadora e da imprensa especializada (sic), as drogas e a trairagem interna é muito bom.

PS: Senti falta de pelo menos uma única música “nova” do ótimo mais recente cd de 2020, mas aí seria pedir demais!

Fotos do show: Klyn Fotografia (Prime)