A atriz, cantora, professora e pesquisadora Edna Aguiar dá início, em maio de 2025, à circulação do projeto Mundo do Meio, uma ação que levará arte e ancestralidade a territórios indígenas, assentamentos e comunidades quilombolas do Paraná. Inspirada na figura mítica da Preta do Leite — mulher preta, falante, que atravessava madrugadas distribuindo leite e histórias — a performance propõe a retomada das tradições orais que moldam a identidade cultural brasileira.
A iniciativa foi aprovada pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Paraná e conta com financiamento da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do Ministério da Cultura. A circulação ocorrerá em duas etapas, entre o primeiro e o segundo semestre de 2025.
Misturando teatro, música e contação de histórias, a montagem é fruto de uma pesquisa profunda de Edna Aguiar sobre oralidade ancestral, envolvendo os Itans da cultura iorubá, contos indígenas, lendas populares e canções tradicionais. “A Preta do Leite nasceu como uma persona minha, mas é também uma ponte entre minha história pessoal e o trabalho artístico. Assumo agora, aos 60 anos, a força das minhas raízes kaingang e africanas. Quero falar sobre isso”, afirma Edna.
Com estreia marcada para 7 de maio, na Terra Indígena Barão de Antonina, em São Jerônimo da Serra, a performance passará ainda por Londrina, Tamarana, Florestópolis, Primeiro de Maio e Centenário do Sul. Em setembro, o roteiro segue para comunidades quilombolas em Lapa, Paranaguá e Guarapuava. Além das apresentações, está prevista a produção de um curta-metragem documental, que será exibido nas comunidades visitadas e publicado online.
Para Guilherme Kirchheim, diretor artístico do projeto, o trabalho de Edna Aguiar representa “um resgate potente e afetivo da memória coletiva”. Com mais de 30 anos de carreira e colaborações com grandes nomes do teatro brasileiro, Edna encarna na Preta do Leite a mulher que carrega no balaio não apenas leite, mas saberes e melodias ancestrais. “Ela transforma a narração em encontro, e o encontro em resistência”, define o diretor.
A Preta do Leite, figura do imaginário popular presente especialmente no Paraná e em Minas Gerais, é resgatada por Edna como símbolo de uma comunicação afetiva, comunitária e resiliente. “Ela era como uma rádio ambulante”, explica a artista. “Falar como a Preta do Leite é prosear sem pressa, ser ponte entre os saberes.”