A faixa é norteada pelas principais influências noventistas de Elisa (do grunge à cena reggae/ska/hardcore californiana e divas r&b), aliando bases de reggae com linhas de guitarras sujas, camadas de vocais e pesada programação eletrônica. “Eu gosto de usar o reggae quase como um contraponto para falar de coisas desconfortáveis, por isso o estilo ganha contornos mais alternativos, mais indies nas minhas produções. Inclusive por causa dessas minhas influências 90′, acho que o arranjo de Beleza se aproxima bastante de uma vibe meio riot grrrl, como uma marcha feminista, que constroi autoestima apesar de toda dificuldade”. Single conta com o arranjo de sax barítono e flauta, gravados à distância, ainda no isolamento social em 2021, pelos músicos Adriano Caneta e Ênio Prieto. Do universo regueiro, a música tem o fundamental baterista Gabriel Pinto da Luz, da banda amazonense de reggae Johnny Jack Mesclado, da qual Elisa fez parte durante 8 anos. No piano acústico e contrabaixo, os experientes Ian Fonseca e Jérôme Grás, respectivamente, da banda Supercolisor. A mixagem é assinada por Rafaela Prestes e a masterização por Fernando Sanches, no Estúdio El Rocha.
Beleza ganha também um videoclipe, numa parceria com a Casa Matagal. Toda a concepção visual (roteiro, direção de arte, figurinos, maquiagem e cabelos) é assinada pelo elenco da Casa: Mother M4fel, Fernanda Varela, Zuri Uboro, Rosa Casca e Odara 007. A direção geral e a de fotografia são assinadas respectivamente por Victor Kaleb e Robert Coelho; Samya Carvalho e Fernando Faria Freitas são responsáveis pela montagem e Clau Rossatti pela correção de cor e finalização.
A ideia é representar belezas ignoradas e desvalorizadas aliadas a movimentos de voguing, que a cantora Elisa Maia se familiarizou frequentando os bailes de ballroom que acontecem, inclusive, no mesmo bairro que a artista reside, na Zona Norte, periferia de Manaus. O voguing tem as suas origens nas ballrooms de Nova Iorque dos anos 80 e se consolidou como dança e performance voltados para comunidades LGBTQIA+, principalmente negra, do mundo inteiro. No Amazonas, a cena vem ganhando destaque e o estilo se profissionalizando principalmente em Manaus. A Casa nasceu da disposição da Mother M4fel, afirmando a existência de mulheres pretas, cis e travestis, que assim como o matagal (vegetação rasteira que cresce à beira do caminho) tem a capacidade de nascer e crescer em todos os cantos, resistente.
“É importante reconhecer beleza na crueza de ser quem se é, no prazer e na angústia de habitar em cada corpo. Mas é também sobre a partir dessa constatação ser capaz de construir a cada dia quem se quer ser, onde é possível alguma plenitude na caminhada em torno de uma autoestima possível”, conclui Elisa.