SANDMAN


O SONHO DA ADAPTAÇÃO SE TORNOU REALIDADE

Sandman, personagem clássico reimaginado pelo prestigiado escritor britânico Neil Gaiman, cuja primeira de 75 edições ele publicou, pela DC Comics, em 1988, enfim ganhou sua aguardada série, pela Netflix, que traz consigo a idílica essência da obra original, para deleite de seus milhares de fãs espalhados pelo mundo desperto.

Sendo Gaiman um dos produtores da série, e tendo ele acompanhado de perto os detalhes de sua realização, já era esperado um nível de qualidade à altura de sua aclamada história em quadrinhos que, lá na virada para os anos 1990, contribuiu para tornar os “gibis de super-heróis” mais sérios e respeitáveis, passando a serem vistos não mais como apenas “diversão para crianças”, mas como Arte. Sandman despertou a atenção de um público diferenciado para essas HQs.

Pois esta obra de Neil Gaiman está muito longe de ser uma história de super- heróis convencional. Seus conceitos transcendentais e existencialistas, inseridos em uma contemplativa atmosfera de fantasia gótica e mórbida, nos
convidam a viajar pelo Reino do Sonhar, e a filosofar sobre a vida, o que fazemos dela, o que aprendemos com ela, e até o que vem depois dela… Todo esse clima onírico da HQ está muito bem adaptado na série!

Como já foi sugerido acima, não se trata de uma produção com ação frenética, na qual o herói vai dar socos no vilão da vez… Aliás, o principal “golpe” do protagonista é o seu infalível “sopro de areia”. E a BATALHA DE PALAVRAS que acontece em certo momento… é fabulosa! Os fãs vão à loucura ao verem sendo ditas exatamente as mesmas palavras que foram lidas nas HQs, além das imagens que parecem ter saído diretamente de suas páginas! Mas… e para quem ainda não conhece essa visionária história em quadrinhos de Neil Gaiman, e está se perguntando: “Se eu ver, será que vou gostar?” Vai depender muito, é claro, do gosto e da expectativa de cada um.

Se você quer conhecer a vibe de Sandman e de sua peculiar família, os Perpétuos, assista, ao menos, o episódio 6, no qual nosso herói, que também é conhecido como Morpheus, o Mestre dos Sonhos, ou simplesmente, Sonho,
conversa com sua irmã, a… Morte, sobre a… vida. A segunda metade deste mesmo episódio narra encontros que ele tem, a cada 100 anos, com um amigo que ganhou a “dádiva” de não morrer. O mais belo, reflexivo e poético episódio dos 11 desta primeira e acertadíssima temporada.

É importante lembrar também que, além de temáticas adultas que a trama aborda, os vilões John Dee e Coríntio, com seus “modus operandi”, cometem ações que justificam a classificação da série para maiores de 18 anos. Fica o
aviso! Neil Gaiman, plenamente ciente de estar adaptando para o audiovisual em 2022 uma história em quadrinhos concebida 34 anos atrás, também não se privou de fazer modificações que julgou relevantes, em relação à etnia e gênero de alguns personagens do afinado elenco, ressoando nessa revisão a importância da inclusão e da representatividade. E os episódios ainda trazem lições de vida que transcendem os sonhos.

Com uma narrativa cadenciada, que pode causar estranheza a quem não está acostumado, Sandman é uma produção ousada, que se manteve fiel a seu material original nesta primeira temporada, composta por seus dois arcos bem definidos, além de seus dois excelentes episódios isolados, o já citado sexto e o décimo-primeiro, e nos agraciou com um visual competente, acreditando na receptividade dos fãs e na curiosidade de seus possíveis novos fãs.

O resultado: primeiro lugar no ranking de séries mais assistidas da Netflix em mais de 80 países, inclusive, é claro, no Brasil!

Acredite no Sonhar!

(Roberto Oliveira)