Primeiros passos na paternidade

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A maternidade é sem dúvida uma transformação incrível na vida. A gestação, o nascimento e criação de um filho são momentos únicos e incomparáveis na vida de uma mulher – mas e quanto ao pai?

Não pretendo aqui fazer qualquer tipo de comparação entre o papel do papai e da mamãe, ou suas relevâncias na criação e educação, muito ao contrário disso, pretendo explorar um pouco a forma como nós pais lidamos com a paternidade durante a gestação e o parto, como fomos ensinados a pensar sobre esses momentos e quais os desafios que temos como pais no mundo de hoje.

Papéis claramente definidos

Certamente, para a grande maioria das pessoas os papeis da mulher e do homem já estão dados e se estabelecem a partir da biologia – como é a mulher que gesta, pari e amamenta, a gravidez e boa parte da criação devem logicamente ficar a cargo dela. Ao homem cabe a função de provedor e protetor do lar. Mas será que as coisas precisam ser assim ainda hoje?

O biologismo sempre foi uma excelente maneira de se determinar papéis de forma a favorecer um grupo em detrimento de outro. Quando tentamos nos dividir em raças colocamos o homem branco europeu como superior ao negro africano. Já definimos o homossexualismo como patologia e delegamos à mulher o papel de mãe submissa ao homem, aquela que deve se ocupar da gestação e do parto enquanto o homem se ocupa de assuntos mais importantes. Assumir a biologia como determinante do comportamento humano é a forma ideal de limitar nossas percepções sobre a vida.

Em outras palavras, somos muito mais do que um amontoado de células e um copo de hormônios – somos também nossas experiências, condicionamentos, heranças culturais, educação e por aí vai.

Quando nos colocamos no papel de pais como provedores puramente das necessidades materiais da família e usamos a biologia para fundamentar esse comportamento, limitamos nossa experiência como pais e conscientemente ou não, nos isentamos da participação ativa na gestação, parto e primeiros cuidados no puerpério, afinal esse é o papel da mulher e se ela precisa de ajuda, que seja de outras mulheres – tem sido sempre assim.

Definindo novos papéis

Entender o relacionamento com nossas esposas, companheiras e parceiras de forma madura é entender também que essas definições estanques devem ser deixadas para trás. Entendermos a igualdade de direitos vai além das relações de trabalho ou “ajudar” (assim com aspas gigantes) nos cuidados com a casa. Temos que assumir a participação ativa na vida de nossas companheiras e filhos e isso só é possível através de uma reflexão constante sobre nossa atuação familiar pois sem um processo voluntário de atenção, podemos facilmente sermos levados pelos padrões antigos de comportamento dentro do qual a maior parte de nós foi educado. Se é verdade que o mundo está mudando rápido, acredito que deveríamos refletir também sobre o que é ser um pai nos dias de hoje.

É inegável que a relação mãe e filho se dá fortemente sobre bases biológicas afinal, a gestação o parto e a amamentação só podem acontecer com a mamãe. Mas há muita coisa no meio disso tudo e nessa maçaroca, o pai tem um papel fundamental que nunca assumimos mas que agora podemos fazê-lo. Listo aqui o que me parece serem situações comuns que pude perceber através da nossa gestação e de outras de amigos e familiares das mais diferentes tribos.

Procure entender o que acontece durante a gestação

Leia, veja vídeos, participe de encontros de gestantes com sua esposa, converse com outras gestantes. É importante entender a gestação pois isso deixará você e ela mais tranquilos e poderão viver esse momento com mais leveza. Em encontro de casais, não deixe acontecer a tradicional separação de homens num canto e mulheres no outro. A ideia é integrar, não separar.

Coloque-se aberto para entender as mudanças pelas quais ela passará

O filho de vocês começará a ser gerado dentro dela e onde antes havia um só indivíduo agora são dois. Emocionalmente isso pode ser de grande impacto e nesse momento, um colo reconfortante, palavras de apoio e uma maior proximidade podem ser mais importantes do que fazer muitas horas extra no trabalho ou se preocupar excessivamente com o futuro ou simplesmente sair de casa deixando-a com suas inseguranças.

Entenda que vocês agora estão formando uma família

Quanto antes você se der conta disso, mais fácil será lidar com as decisões que virão. Vocês não são mais somente extensões de seus pais e talvez seja importante refletir sobre como anda sua relação com eles. Buscar ajuda profissional (um terapeuta, uma doula, etc) nesse processo poderá ajudar lá na frente a criar segurança para que vocês possam tomar suas próprias decisões com lucidez.

Se conselho fosse bom…

Todo mundo tem algo a dizer e algum conselho a dar nesses momentos, por isso é importante se informar antes ou você correrá sérios riscos de se ver bastante perdido em meio a um mar de conselhos e dicas que podem simplesmente tornar tudo muito, mas muito mais confuso e difícil.

Participe do parto

Se sua esposa quiser também, participe do parto, esteja junto, mas veja filmes de parto antes para ter uma ideia mínima do que esperar. No Youtube tem de tudo quanto é tipo. Não importa se o parto será uma cesárea, se será normal no hospital ou se será em casa, esse é um momento único de enorme intimidade do casal que você não vai se arrepender de viver com sua esposa, mas procure ter o mínimo possível de pessoas por perto. O parto é um momento íntimo, a festa com seu filho vem depois, bem depois.

Faça parte do mundo do seu filho

Se sua esposa topou e você vai participar ativamente do parto, aproveite. Imagine só, seu filho passou toda a vida dele em um mundo completamente diferente desse para o qual ele está vindo. Você vai realmente perder a oportunidade de lhe dar as boas-vindas logo no primeiro momento?

Se o parto for no hospital, fique atento

Ainda existem muitos obstetras e pediatras não familiarizados com os conceitos do parto humanizado e na grande maioria das vezes submetem as crianças a procedimentos desnecessários que podem ser bastante agressivos. Vale dar uma pesquisada sobre parto humanizado para entender um pouco mais sobre o assunto. Lembre-se que seu filho não tem qualquer experiência sobre esse mundo aqui de fora e se você puder ajudá-lo em uma transição suave, seria bom se o fizesse.

Fique perto e ajude

Aqui sim você deve deixar vir à tona seu “instinto” protetor. Quando uma criança nasce é normal que toda a família queira a conhecer ao mesmo tempo. Sua esposa estará cansada, um pouco fragilizada e focada em suas novas atribuições e é muito provável que você tenha que se dividir em muitos então, arrume a casa, faça a comida, lave a roupa e principalmente, controle o número de visitas. É sempre bom lembrar, vocês estarão construindo uma família e aprendendo a desempenhar papéis novos e por outro lado, o filho de vocês estará começando sua jornada no mundo onde tudo é absolutamente novo. Quanto menos impacto ele precisar sofrer no começo, mas suave será sua adaptação. Acredito que no começo vocês se cansarão menos se receberem visitas em grupos pequenos e sempre por pouco tempo e principalmente, longe dos seus horários de refeição. E não se sinta mal se você não conseguir oferecer nada para comer, eles entenderão. Seu foco agora deve ser sua esposa e seu filho.

Não mantenha o modus operandi machão

Quando o bebê chega em casa e a rotina de amamentação, fraldas e privação do sono começa é fácil construirmos o seguinte argumento: “tenho que dormir mais afinal, tenho que trabalhar já que minha esposa precisa ficar em casa amamentando e cuidado do nosso filho”. Muito superficialmente esse argumento pode até parecer válido mas… Bom, ela não vai sair pra trabalhar, mas ficará o dia todo vendo pouquíssimas pessoas, mergulhada em fraldas e mamás, perdida no tempo sem espaço direito para tomar banho ou comer, muito menos fazer cocô e também não conseguirá dormir direito. Os dois terão muito trabalho e os dois precisam dividir um pouco os esforços. É claro que a mãe acaba assumindo muita coisa, mas não devemos de forma alguma nos isentarmos.

Acredito que temos que aproveitar os momentos da gestação, do parto e do nosso contato com as crianças para recuperarmos aquela sensibilidade que nossa educação castradora, condicionante e limitadora nos tirou. Como homens temos que nos lembrar do que é estarmos atentos as necessidades do outro, as sutilezas da vida e as infinitas possibilidades de criação de uma nova família. É importante percebermos a sensibilidade como uma abertura ao novo e a uma infinidade de possibilidades que favorecem o crescimento. Ora, para entendemos isso basta pensarmos nos antônimos da palavra sensibilidade: dureza, inumanidade, apatia, desinteresse, maldade… Ao aproveitarmos esses momentos para resgatarmos nossa sensibilidade interior, estamos dando a nós, a nossa esposa e a nosso filho a possibilidade de crescimento e desenvolvimento.

Me lembro com clareza de uma conversa que tive com um amigo por telefone há muito tempo atrás quando ele tinha acabado de ter seu primeiro filho. Quando perguntei a ele como era a sensação, ele me disse: “olha Ricardo, ter um filho é experimentar uma outra dimensão do amor”. Nunca mais esqueci. Obrigado Evandro.

Agora com minha filha aqui em casa entendo com toda a clareza o que ele me disse naquele dia e entendo à minha maneira. Sabe aquela sensação de borboletas no estômago que temos quando nos apaixonamos por alguém? Pois é, ter uma filha é ter as borboletas no peito o tempo todo, até quando se troca uma fralda de cocô explosivo!