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I
Aqui nesta praça
Barulhos das máquinas que passam
Ônibus cheio de ombros sustentando cabeças
Cansados
Carros fechados são latas térmicas de ar fresco
Artificial
Carregam pessoas sentadas que esperam
O verde infame do sinal
A praça é vazia
Os bancos não suportam os velhos
Que não envelhecem mais
Juventude tardia
Os pombos migraram
Europeus amaldiçoados, disseram
Nem pipoqueiro tem mais
A praça segue vazia
II
Praça é só passagem
Desconfiados, quem para aqui está perdido
Eu estou perdido
Dizem que aqui não se cria morada
Só passam
Não olham as árvores
As pedras no chão
Só telas iluminadas de ilusões
Praça da solidão
III
Solidão é um encontro com o próprio corpo
Que não fala
Só
Sente
Sozinho
Quem procura ouvido
Não encontra voz
Desencontro anatômico
Vigiada por condomínios
A praça não vive
É só um atalho
Floresta estéril
Criando solidão
Ah, de novo!
IV
Solidão é um desencontro
Entre a vida que espera
E a morte que caminha
A vida é a palavra que retorna
Remoída
Por uma boca que não escuta
Só
Fala
Praça
Perdida.
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