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É difícil aprender a voar.
Mais difícil ainda é alcançar a arte do pouso.
Os pássaros voam por aí simplesmente. E pousam numa habilidade que me faz inveja.
Queria escrever como o pouso do pássaro, muito mais do que o manjado voo. Como seus olhos miram um lugar, como diminui a velocidade, como estica as patas, ajeita as asas e agarra a terra ou a árvore e aí seu olhar atento e vivo se apresenta, indiferente ao meu espanto.
E eu aqui dentro desta máquina voadora, sentado do lado de uma freira que folheia a revista da companhia.
A comissária de bordo me pergunta, biscoito doce ou salgado.
Que falta do que dizer, eu penso.
A freira, que também não sabe voar, preferia vê-la rezando.
Só os pássaros não se perguntam como e aonde irão pousar. Tão pouco rezam. Não precisam.
Eu, que já rezei nessa vida, acho de bom grado ver a freira rezando por nós todos aqui.
O tédio é tenso e quieto aqui dentro.
Vamos pousar.
Nunca como pássaros, que não sabem o que é rezar. Não precisam.
E a freira ali. Aposto que reza por dentro.
Aposto.
E quando pousamos, é sinal da cruz pra todo lado. Menos da freira. Que não precisa.
Amém, eu aqui traindo meu ateísmo.
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