A notícia que ninguém esperava e que todo curitibano fingiu não ver: os Anunakis pousaram no Barreirinha. Sim, Curitiba foi escolhida como porta de entrada da delegação interplanetária que, depois de milênios, voltou para conferir como anda a humanidade. O que não sabiam é que, aqui, até os alienígenas precisam pegar o ligeirinho errado e pedir informação na padaria: “Moço, como é que chega na Amazônia sem passar pelo pedágio?”.
Vieram por causa da COP30, esse grande festival de promessas sustentáveis em Belém, onde o planeta inteiro se reúne para dizer que vai salvar a floresta — enquanto negocia discretamente quem vai levar o último litro de petróleo e a última tora de madeira. Os Anunakis ouviram falar do pré-sal, claro, mas acharam mais simpático começar pela Amazônia, “os pulmões do mundo”, que agora também funciona como vitrine internacional para discursos que não se traduzem em práticas.
O problema é que ninguém explicou pra eles que Curitiba não é exatamente a esquina da Amazônia. Ao desembarcar no Barreirinha, encontraram mais pinheiros que palmeiras, mais neblina que sol e um grupo de adolescentes treinando dancinha de TikTok no terminal. Perguntaram: “Vocês são os guardiões da floresta?”. E os meninos responderam: “Não, mas a gente tem canal no YouTube, segue lá.”
Enquanto isso, em Brasília, os políticos reagiram à notícia do pouso com a sobriedade habitual: convocaram uma comissão mista para discutir quem seria o responsável por recepcionar os ETs na COP30. Um grupo defendia a foto oficial com o presidente, outro queria a foto exclusiva com os governadores da região Norte, e um terceiro sugeriu transformar os Anunakis em atração turística com direito a camiseta “Eu fui abduzido em Belém”.
Na geopolítica, o efeito foi imediato. Estados Unidos e China correram para anunciar que os Anunakis eram aliados deles, a Rússia soltou uma nota dizendo que não reconhecia a legitimidade da nave, e a União Europeia prometeu sancionar qualquer alienígena que não reciclasse corretamente as embalagens de marmita. O Itamaraty, por sua vez, publicou uma declaração sóbria: “O Brasil está aberto ao diálogo, desde que os visitantes participem do leilão do pré-sal e paguem o ICMS.”
As novas gerações, claro, vibraram. Surgiram perfis no Instagram: “ET do Barreirinha Official”, “Anunaki Lifestyle” e até “Close Friends da Nave”. Influencers disputaram quem seria o primeiro a fazer publi com os visitantes. Resultado: no segundo dia, um Anunaki já estava promovendo bebida energética vegana e outro, em collab com uma marca de tênis, estrelava campanha com o slogan “Corra mais rápido que a luz”.
Enquanto a COP30 fervilhava de discursos sobre salvar a Amazônia com parcerias internacionais e créditos de carbono, os Anunakis ainda tentavam sair do Paraná sem chamar atenção. Usaram o Google Maps, que sugeriu “caminho mais rápido via BR-277”. Caíram no pedágio. Sem dinheiro trocado, tentaram pagar em ouro. O cobrador recusou: “Aqui só pix.”
No fim, desistiram de chegar a Belém. Mandaram uma mensagem por zap para a ONU: “Planeta segue em beta, confuso, com excesso de reuniões e pouca ação. Próxima visita: quando o metrô de Curitiba estiver pronto.” E sumiram. Não sem antes deixar um bilhete colado num poste em frente ao campo do Combate Barreirinha:
“Vocês discutem sustentabilidade enquanto desmatam, discutem futebol enquanto não ganham, discutem futuro enquanto vivem de promessas. Voltaremos quando sobrar floresta ou sobrar vergonha. O que vier primeiro.”
E a cidade seguiu seu ritmo: friozinho, fila no tubo, dancinha no terminal. Porque em Curitiba até a chegada de ET vira só mais uma terça-feira nublada.