Há 10 anos: O primeiro capítulo em Joinville

Coritiba, Série B 2010

Rafinha fez gol e foi expulso no primeiro jogo com mando em Joinville (divulgação)
Rafinha fez o gol e foi expulso no primeiro mando do Coritiba em Joinville (divulgação)

No dia 6 de dezembro de 2009 aconteceu um dos episódios mais tristes da história do Coritiba. O Verdão era rebaixado mais uma vez. Foi do tipo doído, em que o clube lutou até o fim para escapar da degola, no ano do centenário.

 

Depois de tantos duelos épicos e tantas derrotas (muitas delas por goleada) bastante amargas, a decisão ficou para o jogo contra o Fluminense. O Couto Pereira estava lotado, e demoraria muito para aquela cena acontecer novamente. O Fluminense abriu o placar em cobrança de falta. O Coxa tentou reagir e conseguiu o empate com Pereira, mas o gol da vitória não saiu. Enquanto isso, o Botafogo vencia o Palmeiras, decretando o rebaixamento do Coritiba.

 

A reação de parte da torcida foi a pior possível. Pessoas invadiram o campo e enfrentaram a polícia e jogadores. Um desastre. A estrutura do Couto Pereira também foi comprometida, o que tornou o descenso muito mais insuportável do que precisava ser.

 

No STJD, a canetada: 30 jogos em competições nacionais com mando do Coritiba teriam de ser realizados a pelo menos 100 quilômetros da capital. Além disso, o clube seria obrigado a pagar uma pesada multa de R$610 mil. O Couto Pereira foi interditado, e o Coxa precisaria mandar seus jogos em outros estádios no começo do ano.

O que fez?

Diminuiu a folha de pagamentos. Estima-se que o clube gastava 1,5 milhão em salários por mês em 2009, o elenco mais caro da história do Coritiba até então. 12 jogadores deixaram a equipe, entre eles os meias da “família Paraíba” (Marcelinho e Carlinhos Paraíba), que foram para o São Paulo; os atacantes Bruno Batata, que retornava ao Corinthians Paranaense, e Leozinho, transferido para o Ceará.

 

Assim, os gastos com salários foram cortados quase pela metade, mas o técnico Ney Franco considerou aquele um bom elenco. Afinal, permaneceram Marcos Aurélio e Ariel, além da contratação por empréstimo do meia-atacante Rafinha, em compensação pela venda de Marcelinho e Carlinhos Paraíba. O próprio treinador resolveu assumir a missão de comandar o alviverde rumo à primeira divisão novamente.

em 2010, Ney Franco seguiu no Coritiba (Albari Rosa/Gazeta do Povo)
Ney Franco seguiu no Coritiba (Albari Rosa/Gazeta do Povo)

O Coxa também integrou ao elenco principal o volante Marcos Paulo, que já estava atuando nas categorias de base do alviverde emprestado pelo Avaí.

 

A desconfiança era grande, mas o Coritiba iniciou muito bem a temporada. Liderou de ponta a ponta a primeira fase do estadual, garantindo o “Super Mando”, previsto pelo regulamento da época.

 

O Verdão fez o primeiro jogo como mandante na Vila Capanema, contra o Serrano, e as outras partidas, antes  da goleada por 4 a 1 sobre o Nacional de Rolândia, no dia 28 de fevereiro, foram todas em Paranaguá.

 

Em março, o Coritiba começava a arrancada para o título estadual, que seria conquistado diante do rival Atlético no dia 18 de abril, no Couto Pereira, com gols de Marcos Aurélio e do angolano Geraldo, outro reforço para a temporada.

 

Enquanto isso, nos tribunais, o clube conseguia diminuir a pena de 30 perdas de mando e multa de R$610 mil para 10 jogos e R$100 mil (posteriormente, a multa ficou em R$5 mil). Um pouco de alívio pela diminuição da pena e alegria pela conquista de um título após um período tão difícil de readaptação.

Coxa conquistou o paranaense 2010 (divulgação/Gazeta do Povo)
Coxa conquistou o paranaense de 2010 (divulgação/Gazeta do Povo)

Mas a dúvida era: Será que aquele time conseguiria se sair bem na Série B? Quanto fazer 10 jogos em Joinville atrapalharia o time tecnicamente? O clube suportaria aquilo para subir logo no primeiro ano?

 

As perguntas eram muitas principalmente porque, no dia 31 de março, o Coxa foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil pelo Avaí, ao perder em casa na partida de volta por 1 a 0, depois de conseguir uma igualdade em 1 a 1 no jogo de ida.

 

E a interrogação ficou ainda maior no pontapé inicial. Com autoridade, o Náutico bateu o Coritiba por 3 a 1, no estádio dos Aflitos, pela primeira rodada da Série B. Mas tudo bem, já que a segunda partida seria em casa… Seria, há 100km de casa, em outro estado.

O Jogo

No dia 14 de maio de 2010, uma sexta-feira, às 21h, o Coritiba recebia o América-MG, na Arena Joinville, o “lar” temporário emprestado pela prefeitura local e pelo Joinville.

 

Ney Franco escalou Édson Bastos; Jeci, Lucas Mendes e Demerson; Fabinho Capixaba (Ângelo), Triguinho (Dudu), Marcos Paulo, Leandro Donizete e Rafinha; Jefferson e Ariel (Bill).

 

O Coelho foi a campo com Flávio; Danilo, Gabriel, Otávio e Preto (Thiago Silvy); Leandro Ferreira (Jandson), Irênio, Rodrigo e Dudu; Laércio (Neto Maranhão) e Fabio Junior. O técnico era Mauro Fernandes.

 

O jogo começou bastante truncado, com o Coritiba tentando atacar, mas sem grandes chances. Até que aos 19 minutos, Ariel manda uma bomba de fora da área, Flavio soltou e Marcos Paulo rolou para Rafinha abrir o marcador. 1 a 0.

 

O Coxa  teve outra chance aos 23 minutos,, Jefferson bateu cruzado, dentro da área, mas Flavio conseguiu a defesa. O confronto voltou a ficar brigado, e uma confusão, aos 36, mudaria a história da partida. Rafinha teria sido pisado por Leandro Ferreira (os relatos são diferentes em textos sobre o jogo) tentou revidar e acabou sendo expulso.

 

Um dos melhores jogadores do time até aquele momento não tinha conseguido se controlar. Enquanto a preocupação ficava na cabeça dos coxas-brancas, Airton Cordeiro, em seu comentário, considerava que talvez fosse por aquele tipo de atitude que o meia-atacante era emprestado tantas vezes pelo São Paulo (aquele já era o quarto empréstimo de Rafinha, que nunca foi aproveitado pelo Tricolor paulista).

 

Ao fim do primeiro tempo, ainda houve uma confusão envolvendo a comissão técnica do América-MG e jogadores do Coxa.

 

Na segunda etapa, Fabio Junior teve boa chance logo no primeiro minuto, mas a bola foi pela linha de fundo; Thiago Silvy tentou chute de fora da área que passou por cima da meta; aos 14, Dudu também arrematou de longe, mas a bola subiu demais; e, aos 19, Irênio cobrou falta e Jandson desviou para empatar tudo na Arena Joinville. 1 a 1.

 

Ney Franco tentou mudar a partida com a entrada de Dudu, jovem atacante trazido por empréstimo do Cruzeiro, que foi bem no jogo, criando pelo menos duas chances de gol. Mas não adiantou. Em um duelo sem muita inspiração de ambos os lados, o Coritiba conseguia apenas um ponto em seu primeiro mando na casa emprestada.

Era somente um ponto em dois jogos; o Coritiba estava em 15º e a torcida voltava a ficar desconfiada. Ficou claro, ali, que não seria tão fácil como o otimismo de três semanas antes previra. Pela frente, vinha a Portuguesa, no Canindé, uma das favoritas ao acesso.