Outro dia estava prestando atenção nos dias da semana em russo e ucraniano, reparei que apenas o domingo era diferente, na Rússia chamam de Воскресенье
(Voskresen’ye) enquanto na Ucrânia неділя (nedilya), que nas minhas origens do Fazendinha em Curitiba vinha sempre acompanhado de um “khvala Isusu Khrystu”, que eu respondia por educação mesmo nunca tendo aceitado o tal do “Isusus”, talvez essa diferença venha da necessidade de divisão entre as igrejas (ortodoxas) da Rússia e da Ucrânia em se afirmarem como independentes umas das outras, os patriarcados do oriente sempre foram vários em um, mais difícil do que entender a trindade de Isusu Khrystu como pai, filho e espírito.
Naquele tempo quando as chaves do Império Romano do Oriente precisavam ser passadas para alguém, foram passadas em legado e imponência para aquele povo logo acima do Mar Negro, os Romanov, descndentes da expansão romana se tornaram os russos, em fé e Czares, pois Bizâncio era ameaçada pelos Otomanos, o fato é que o ocidente nunca percebeu isso, os eslavos são o grupo linguistico indoeurpeu mais homogêneo, um ucraniano pode se quiser, entender um checo, que por sua vez se pedir para falar devagar, vai entender o búlgaro.
O ocidente atropela a homogeneidade das coisas e marca na diferença, os russos por exemplo se deixaram influenciar pela corte francesa, a nobreza do Império Russo falava no século XIX um proto-francês que se assimilou ao idioma russo, mais latinizado entre todos os eslavos, assim como no inglês, quando alguém quer se valer da norma culta da língua, conversar usando palavras de raiz latina, julgamentos, artigos e etc. A norma culta da língua sempre como instrumento de poder, no nosso romântico português vemos isso como um instrumento de prepotência e elitismo, Plínio Salgado, Jânio Quadros, Collor, Temer e etc. sempre fizeram um uso da língua portuguesa com maestria, valorizando a latinidade de termos complexos, colocações pronominais, voz ativa na construção sintática, o que é uma “pantomima”, uma “patuscada” em um país onde a educação nunca foi valorada.
Mas para além dessa viagem, quando a União Soviética começa a se consolidar o que os comunistas percebem é que era muita Rússia, então existe uma tentativa de desenvolvimento das nacionalidades por lá, para que a Duma fosse ocupada por turcomenos, quirguizes, ucranianos e uzbeques de forma igual, o fato é que isso foi incentivado no começo dos anos 1930, onde o Bandeirismo na Ucrânia (nacionalismo com requintes fascista) começa a ter força, ora o Império Russo era cruel e antissemita, rodeado de pogroms e colocando os judeus na Bessarábia, atual Moldavia, não foi diferente na construção da União Soviética, a nacionalidade judaica fora respeitada sendo mandada para a longinqua Oblast Judaica de Birobidjan na Sibéria, terra do personagem Mayer em Exercito de Um Homem Só de Moacyr Scliar, então a duma heterogênea nos anos 1940 já era totalmente russa.
Ser diferente entre os iguais e igual entre os diferentes faz entender que na prática cotidiana, a influência do ocidente sobre àquele quadrante da Eurásia sempre foi uma tentativa fracassada de impor um modo de pensar sobre aqueles que pensam diferente, o consumo é a forma de igualdade ocidental, por isso quando chegaram no Paraná, muitos ucranianos era chamados de mals polacos, pobres foram mandados para interior ou para um modo de vida arcaico sem os privilégios dos italianos e alemães, assim como os judeus da Bessarábia e muitos russos cujos descendentes pensam que são alemães ou poloneses até hoje. Quando termina a primeira Guerra Mundial, França e Inglaterra traçam no oriente médio linhas retas que fazem com que o nacionalismo árabe fique nas mãos da Europa.
Talvez tudo isso tenha haver com São Pedro ou Santo André, onde Caligulas contemporâneos como Biden ou Clinton pensam que podem subjulgar os Miguéis de Constantinopla, afinal, se a Rússia fosse incluída no mundo nos 1990 e não ridicularizada e subjugada pela opinião pública global, a história poderia ter sido outra, não sabemos ao certo onde isso vai dar, porém perdemos uma chance de entender o significado da palavra “mir” (paz) e o que de fato é a “sólida base de povos irmãos”, pois dentre as perspectivas de Gogol estamos nesse mesmo mundo e o mundo deve ser um apenas, onde que todas as diferenças injustiçadas sejam expostas em letras grandes na arrogância das paredes das casas brancas.