O macarrão do Clemenza


Prato eternizado em cena da obra prima de Coppola/Mario Puzo é parte da culinária tradicional brasileira. A macarronada de todos os domingos chegou ao país com os italianos

His palms are sweaty, knees weak, arms are heavy

There’s vomit on his sweater already, mom’s spaghetti

He’s nervous, but on the surface he looks calm and ready

To drop bombs, but he keeps on forgetting

(Eminem)

Peter Clemenza era um dos braços direitos de Vito Corleone no romance O Poderoso Chefão (Il Padrino, 1969) de Mario Puzo, adaptada ao cinema por Francis Ford Coppola, em 1972, roteirizada pelo próprio Puzo. Um dos maiores filmes de todos os tempos. Clemenza era um caporegime. Traduzindo: um membro alta patente na hierarquia de uma família da máfia. Liderava um grupo e era responsável pelas execuções a serviço de Corleone.

Em uma das cenas mais emblemáticas do filme, o personagem (interpretado por Richard Castellano) prepara uma tradicional macarronada e explica a Michael Corleone (Al Pacino), filho mais novo de don Corlenone, o segredo do molho que acompanha a famosa massa, um espaguete.

Clemenza discorre que é preciso fritar o alho e a cebola em azeite, depois acrescentar o tomate picado, deixar homogêneo e em seguida jogar as salsichas e as almôndegas pré-preparadas sobre o molho, um tanto de vinho e açúcar para tirar a acidez.

Estamos falando de espaguete ao molho de tomate, um prato já tão tradicional no Brasil que, não fossem os italianos tão expansivos, mal lembraríamos que a receita é obra deles. A variação clássica ali é a almôndega (fosse à bolonhesa, seria a carne moída pura e simples) e a salsicha — atenção neste ponto. Não caia no conto da salsicha. As que estão no filme e as utilizadas de verdade não são essas porcarias que vemos estudantes e/ou solitários solteirões preparar por aí, coisa de fazer Corleone remexer no túmulo. Sejamos sensatos. Trata-se de salsichas ultra-especiais, com ervas, etc, linguiças em verdade. Procure um bom armazém siciliano/milanês/calabrês em São Paulo ou perto de você e não passe vergonha. Caso não encontre a salsicha/linguiça ideal, paciência, use apenas as almôndegas. Fica bom do mesmo jeito.

O Poderoso Chefão é na verdade uma alegoria da América corporativa, contada do ponto de vista extremamente pessoal, de um ambiente familiar que interpreta eventos acontecidos na vida real. A obra (livro e filme) mapeia a ascensão e queda da Máfia, uma palavra que curiosamente não é pronunciada no filme. Isso se deve ao fato de um cappo ter criado a primeira “liga ítalo-americana antidifamação”, apenas para manter o filme na linha, ou diríamos “colocando rédeas” em Coppola, também um carcamano que conhece muito bem a anatomia do universo ítalo-americano, e especialmente novaiorquino.

A macarronada é cosa nostra.

Ingredientes

– Espaguete de 500 g

– 1 kg de tomate picado

– 300 g de carne moída

– 2 salsichas frescas de bom tamanho (com ervas ou qualquer outra variedade)

– 2 dentes de alho

– Meia-cebola

– Sal

– Pimenta

– Açúcar

– Azeite de oliva extra-virgem

– Manjericão

– Farinha de Rosca

– Leite

– 1 ovo

– 1 traço de vinho tinto

Preparo

  • Misture as carnes, o ovo, 2 colheres de farinha de rosca, 2 colheres de leite, sal e pimenta em uma tigela grande. Quando obtiver uma mistura suave, faça uma série de almôndegas (bolinhas). Frite em azeite extra virgem e reserve.
  • Corte as salsichas em pedaços e frite. Reserve com as almôndegas.
  • Para fazer o molho, frite a cebola e o alho picados, tomando cuidado para não queimar o alho. Adicione uma pitada de vinho tinto e deixe-o reduzir. Adicione o tomate picado, sal, pimenta e um pouco de açúcar para equilibrar a acidez. Cozinhe por alguns minutos a fogo médio.
  • Adicione as almôndegas e salsichas no molho. Deixe cozinhar por mais alguns minutos, adicione um pouco de manjericão, mexa e remova do fogo. Sirva sobre uma porção generosa de espaguete.

Acompanha aquele vinho tinto de boa qualidade e a trilha sonora pode ser a sua escolha. De noite, cool jazz, Frank Sinatra, Cole Porter, que tal? No almoço de domingo tradicional, cai bem aquele sambinha. Se estiver inspirado, tente cozinhar a macarronada ouvindo ópera. Italiana, claro: Puccini ou Verdi. A viagem é coisa que você não vai esquecer. Mamma mia!

Ouça. Leia. Assista:

O Poderoso Chefão – livro, por Mario Puzo

Macarrão do Clemenza – a cena

Imagens: reprodução