O “filho de Charles”


Cormac McCarthy escreveu romances, teatro e roteiros para cinema. Foi dos mais destacados entre os autores contemporâneos da América

Cormac McCarthy está morto. Aconteceu terça-feira 13 de junho, na sua casa em Santa Fé, Novo México, EUA. Ele tinha 89 anos. Knopf, seu editor, disse em um comunicado que seu filho John havia confirmado a morte.

Escritor de obras como The Road (A Estrada, 2007)  e No Country for Old Men, (Onde os Fracos Não Têm Vez, 2005) sua obra sobrevoava um universo de outsiders e violência. Embora tenha recebido reconhecimento completo ao longo de sua carreira, ele permaneceu bastante avesso à fama. Teve pouquíssimas aparições na mídia tradicional, apesar de ter ficado famosa sua entrevista no talk show de Oprah Winfrey, em 2007.

Tecelão de diálogos geniais, McCarthy também alcançou o status literário com The Border Trilogy (A Trilogia da Fronteira), composta pelos romances Todos os Belos Cavalos, A Travessia e Cidades da Planície. Ao longo dos livros, McCarthy segue dois jovens chamados John Grady-Cole e Billy Parham. Suas histórias estão entrelaçadas e repletas de perigos. O trabalho maior indiscutivelmente se concentra na ideia de “o que significa ser um homem”. O texto é construído com imagens poéticas e uma prosa de vigor impressionante.

Nascido em 20 de julho de 1933, Cormac McCarthy foi o terceiro filho de uma família de seis filhos. O nome de seu pai era Charles Joseph e o nome de sua mãe era Gladys Christina McGrail McCarthy. Inicialmente, ele foi chamado de Charles, mas depois mudou para Cormac, que significa “filho de Charles”, no irlandês arcaico do qual descendia.

Em 1937, ele e sua família se mudaram para Knoxville, onde seu pai trabalhava como advogado. Católico, estudou seus primeiros anos sob a rígida lei da Santa Madre. Mais tarde, ele foi para a Universidade do Tennessee, onde estudou artes.

McCarthy serviu na Força Aérea dos Estados Unidos em 1953, no Alasca, durante dois anos dos quatro que passou nas forças armadas. Foi no meio de todo aquele gelo que acabou por apresentar um programa de rádio.

Voltou para a Universidade do Tennessee em 1957 e iniciou sua carreira literária com contos como A Drowning Incident e Wake for Susan. Ambos foram publicados na revista literária dos alunos conhecida como “The Phoenix”, no apagar das luzes dos 1950’s. Ele costumava se chamar C. J. McCarthy, Jr. Ainda na condição de estudante, ganhou o Prêmio Ingram-Merrill de redação criativa em 1959 e 1960.

Casou-se com Lee Holleman, uma estudante da universidade, também escritora. McCarthy deixou a faculdade sem concluir sua graduação e foi para Chicago, onde trabalhou como mecânico de automóveis e começou a esboçar seu primeiro romance. Em seu retorno ao Tennessee, o casamento passava por uma fase difícil, não poderia mais ser sustentado, e se separaram.

“Os homens têm na cabeça uma imagem de como o mundo vai ser. De como eles vão ser neste mundo. O mundo pode ser diferente de muitas maneiras para eles, mas tem um mundo que nunca vai ser e esse é o mundo que eles sonham”.

(Cidades da Planície, 2001)

No início dos anos 1960, ele recebeu uma bolsa de viagem da Academia Americana de Artes e Letras. Usou o dinheiro para viajar para a casa de seus ancestrais irlandeses, onde conheceu Anne De Lisle, uma cantora/dançarina inglesa, e se casou com ela na Inglaterra em 1966.

O NY Times comenta que “seus primeiros romances irregularmente ornamentados sobre desajustados e grotescos deram lugar ao exuberante aspecto taciturno de Todos os Belos Cavalos e ao minimalismo apocalíptico de A Estrada.  A ficção de McCarthy tinha uma visão sombria da condição humana e muitas vezes era macabra. Ele decorou seus romances com escalpelamentos, decapitações, incêndio criminoso, estupro, incesto, necrofilia e canibalismo. ‘Não existe vida sem derramamento de sangue’, disse ele à revista do New York Times em 1992 em uma rara entrevista. ‘Acho que a noção de que as espécies podem ser melhoradas de alguma forma, de que todos podem viver em harmonia, é uma ideia realmente perigosa’.”

Seu primeiro romance, The Orchard Keeper, foi publicado em 1965 e lhe rendeu o Prêmio Faulkner. Em 1966, ele recebeu o Rockefeller Foundation Grant. Ele e Anne viajaram pela Europa e se estabeleceram na ilha de Ibiza, onde começou a trabalhar em seu segundo romance. Em 1967, a família de McCarthy mudou-se para Washington DC, onde seu pai trabalhava como advogado principal em um escritório. Um ano depois, seu segundo romance, Outer Dark, foi publicado. Dois anos depois, ele foi premiado com o Guggenheim Fellowship, ou seja, em 1969.

McCarthy continuou sua carreira literária com os romances Child Of God publicado em 1973, Suttree também publicou 1973, Blood Meridian (Meridiano de Sangue, 1985), Todos os Belos Cavalos publicado em 1979, A Travessia em 1994 e Cidades da Planície, em 1998.

The Sunset Limited foi sua única peça teatral encenada no Brasil, como O Expresso do Pôr do Sol com direção de Fábio Assunção e estrelado por Guilherme Sant´Anna e Cacá Amaral. McCarthy teve diversas adaptações para o cinema, com destaque recente para Onde os Fracos Não Têm Vez (2007), dirigido pelos irmãos Ethan e Joel Coen; e um roteiro original: O Conselheiro do Crime (The Counselor, 2013), com direção de Ridley Scott.

Quase todos os livros de Cormac McCarthy têm tradução no Brasil. Vale conferir.

Ouça. Leia. Assista:

Livros de Cormac McCarthy – Estante Virtual

Onde os Fracos Não Têm Vez – Trailer

Imagens: reprodução