Artigo escrito pela vereadora Maria Letícia (PV)
O Governador do Paraná tramita um projeto em regime de urgência que
pretende entregar o controle acionário da estatal por R$ 3 bilhões. Valor
corresponde ao lucro dos últimos 2 anos de uma empresa com mais de 6
décadas.
“Alô meus amigos Copelianos, eu quero deixar um registro. Primeiro, meu
agradecimento ao apoio dos copelianos que tem entrado na nossa
campanha de forma muito firme. Agradecer e fazer um compromisso, que
a Copel vai continuar sendo dos paranaenses, que vai continuar sendo
tocada pelos copelianos, pela equipe técnica da Copel, mas eu gostaria de
pedir o voto de cada um de vocês”. Essa é a transcrição de uma fala
registrada em vídeo do à época candidato à reeleição ao Governo do
Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Durante o último pleito, ele registrou o
compromisso de manter a Copel nas mãos dos paranaenses, mas pouco
mais de um mês após ter sido eleito, Ratinho Júnior mostra do que é
capaz: transformou o “estado mais moderno do Brasil” em um Paraná que
entrega suas maiores riquezas.
Isso porque, essa semana, o Governador enviou à Assembleia Legislativa
uma proposta em regime de urgência que transformará (muito
provavelmente) a Copel em uma companhia de capital disperso. O nome
chique significa uma atrocidade, já que o Estado está abrindo mão de ser o
acionista majoritário da empresa. Na prática, os paranaenses deixarão de
ser o acionista controlador, reduzindo de 31% para 15% a participação do
Estado no capital social copeliano. Além disso, as ações que dão direito a
voto reduziriam para 10%. Na justificativa do projeto, nenhum dado técnico
ou fundamento que expliquem a operação ou a urgência da medida.
Para registrar repúdio diante de tal ação que significará, caso aprovada, um
ataque sem precedentes ao patrimônio histórico, econômico e energético
do Paraná, os vereadores do Bloco PV/PT da Câmara Municipal de Curitiba
protocolaram uma moção de protesto à privatização da Copel,
questionando a realização de uma medida que ignora por completo o
interesse público – já que os copelianos se pronunciaram contra a medida e
a população sequer foi consultada devido ao regime de urgência do
projeto.
Mas por que o excelentíssimo governador abriria mão de um patrimônio
tão importante para nosso estado? Essa é a pergunta que não quer calar.
Além de ser a maior empresa do Paraná, a Copel – Companhia Paranaense
de Energia – é um orgulho. É nossa e como tal deveria permanecer nas
nossas mãos. Nem o argumento econômico justificaria a medida de
Ratinho, já que a Copel é uma estatal lucrativa que acumula balanços
positivos ano após ano. Só para se ter ideia, o valor de venda das ações,
proposto pelo Governador, corresponde ao lucro dos últimos dois anos da
empresa (segundo avaliação do SENGE – Sindicato dos Engenheiros do
Paraná). Um valor de venda compatível apenas ao lucro dos últimos dois
anos de uma estatal que existe há mais de seis décadas.
Por isso, o Bloco PV/PT da Câmara de Curitiba vem a público registrar: a
energia, assim como a água, é um bem essencial, não é mercadoria. O
direito e a soberania de um estado sobre sua energia não têm preço. Como
jogar fora uma empresa que faz parte da vida dos paranaenses? Que
atende mais de 4 milhões de lares no estado inteiro e até em regiões
vizinhas? Por que tanta pressa em fazer um mau negócio, tirando dos
paranaenses a receita que a Copel gera para o estado?
Com uma canetada, estamos prestes a perder anos de história e
construção. Perderemos nosso potencial hidráulico, domínio tecnológico,
capacidade técnica, uma vida de comprometimento e trabalho dos
servidores e funcionários e dezenas de iniciativas de interesse popular.
Perderemos nossa soberania e segurança energética, programas sociais
como o Luz Para Todos, qualidade de serviço e deixaremos de ter uma das
tarifas mais baratas do país. E se esse é o retrato do “estado mais moderno
do Brasil” (para parafrasear Ratinho Júnior), resta saber até quando vamos
ter dignidade para viver nele.
Dizemos não à venda da Copel porque não é sobre uma empresa. É sobre
a história da energia elétrica no Paraná.
…
Maria Leticia (PV)
médica e vereadora na cidade de Curitiba