A obra aborda o patrimônio industrial do bairro que, sem salvaguarda, está sujeito ao desaparecimento e à perda definitiva de seus traços
Publicado em maio de 2022 e viabilizado pela lei de Incentivo da Fundação Cultural de Curitiba, Um Olhar Sobre o Patrimônio Industrial do Rebouças expõe parte de mais de uma década de levantamentos e análises da arquiteta, professora e pesquisadora Iaskara S. Florenzano dedicados ao icônico bairro.
Primeiro distrito industrial da cidade, seu território está envolvido em uma série de conflitos entre expectativas legais, culturais e econômicas que se verificam em boa parte das áreas que comportam esta tipologia de patrimônio no Brasil e mesmo no mundo.
Edifício original da estação ferroviária, inaugurado em 1883 – Marc Ferrez.
Fonte: Biblioteca Nacional.
Relacionado à expansão do ciclo econômico da erva-mate no Paraná, que a partir da inauguração do edifício da Estação Ferroviária no limite sul da capital do estado no final do século 19 atraiu inúmeras atividades econômicas para o seu entorno, acompanhou o rápido desenvolvimento da cidade.
Colocação de trilhos e calçamento na atual Avenida Sete de Setembro e Praça Eufrásio Correia, 1912, por Arthur WISCHRAL – Fonte: Casa da Memória.
O bairro, que havia se tornado o centro econômico de Curitiba na primeira metade do século 20, a partir de uma série de eventos é destinado ao esvaziamento e ao abandono. Para a pesquisadora, a paisagem do Rebouças e seus vestígios materiais compõem um importante conjunto de elementos vinculados entre si, que expressam tanto a relação das pessoas que ali trabalharam com o espaço, como a memória destes grupos sociais que testemunharam as modificações nela ocorridas ao longo do tempo. O bairro segue sem reconhecimento como bem cultural preservável e o livro demonstra a preocupação com o legado da industrialização para a memória coletiva da cidade.
Vista do edifício da primeira usina termelétrica, 1901.
Fonte: Casa da Memória.
“Para mostrar que as horas não pedem licença, toma medidas de estrategista de guerra.
Não se esconde por trás das citações, precavida ao vício acadêmico.
Mantém as normas na rédea curta. Mitiga as tentações monográficas, uma a uma, com a frieza de um anestesista. Chama Saint-Hilaire, Bigg-Wither, Nestor Vítor, Alfred Agache e todo o elenco para uma conversa em que vale tudo, só não vale falar baixinho.
Florenzano não permite que o leitor boceje. Ela o mantém acordado, livre da impressão de que leu algo parecido uma centena de vezes.
A conversa, aqui, é a quente, como o de um ruidoso grupo de curiosos à porta de um tribunal. O que está em questão, afinal, não é um bairro velho, pitoresco ou o diabo a quatro, mas um bairro que imprime caráter a uma Curitiba às turras com o espelho.”
José Carlos Fernandes – jornalista, professor e pesquisador
SOBRE A AUTORA
Iaskara S. Florenzano é curitibana, arquiteta e urbanista, graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR; especialista em Gestão Técnica do Meio Urbano pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR e pela Université de Technologie de Compiégnè – UTC França; especialista em Conservação e Restauração de Monumentos Históricos Arquitetônicos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR; mestre em Gestão Urbana pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR e doutoranda em Gestão Urbana pela mesma universidade.
É professora do curso de pós-graduação em Patrimônio, Arquitetura e Cultura – PARC, vinculado à Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR em convênio com a Escola de Patrimônio da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e École de Chaillot – Paris desde 2021. É pesquisadora do grupo de pesquisa Arquitetura, Prospecção e Memória: Um Olhar Sobre a Cidade Construída – CNPq, ligado à Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, onde coordena pesquisa sobre patrimônio industrial. É pesquisadora do grupo de pesquisa Planejamento e Projeto em Espaços Urbanos e Regionais – CNPq, ligado à Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR, onde pesquisa patrimônio industrial e paisagem urbana.
RELEASE
Um Olhar Sobre o Patrimônio Industrial do Rebouças
Abonico Smith
Se existe um bairro que pode explicar, ele próprio, um pedaço significativo da história do desenvolvimento urbano de Curitiba no século 20, este é o Rebouças. Com seu legado fabril, ele é o objeto de estudo de mais de uma
década da arquiteta e urbanista, professora e pesquisadora Iaskara S. Florenzano, que acaba de colocar parte do resultado de seus levantamentos e análises em um livro dedicado ao icônico bairro da capital paranaense.
Viabilizado pela Lei Municipal de Incentivo da Fundação Cultural de Curitiba, Um Olhar Sobre o Patrimônio Industrial do Rebouças será lançado no próximo dia 17 de maio, terça-feira, às 17h, na Biblioteca Pública do Paraná.
Primeiro distrito industrial da cidade, o Rebouças, segundo a pesquisadora, está envolvido em uma “série de conflitos entre expectativas legais, culturais e econômicas que se verificam em boa parte das áreas pós-industriais que comportam patrimônio histórico, arquitetônico e urbanístico no Brasil e no mundo”.
Foi justamente o fato do bairro não ser reconhecido como um conjunto cultural preservável apesar de sua extrema importância pelos significados que comporta que a levou a debruçar-se em um olhar apurado em suas pesquisas acadêmicas. Tal olhar, inclusive, não escapa de muitas considerações críticas a respeito da trajetória sofrida pelo Rebouças a partir da segunda metade do século passado, quando novos planos urbanos passaram a destinar seu território e sua paisagem – e, em consequência, o patrimônio industrial – ao abandono e ao desaparecimento.
O passado que deflagrou o Rebouças está intimamente ligado à explosão econômica do ciclo da erva-mate no Paraná, que, a partir da inauguração do edifício da Estação Ferroviária, inaugurado em 1883, no então limite sul da capital, viu a cidade se desenvolver rapidamente. A partir de então, a linha férrea, que ligou Curitiba ao litoral no primeiro momento e depois ao interior e aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, chegando à Bacia do Prata,
possibilitou a exportação do mate para o exterior, ampliando o poder econômico das indústrias ali estabelecidas.
Além dos engenhos, o bairro passou a abrigar também outras indústrias como cervejarias, madeireiras e fabrica de fósforos. Havia ainda armazéns, comércios diversos, edifícios institucionais, vilas operárias, edifícios religiosos, agremiação esportiva e escolas.
Além da paisagem, todo o conjunto de elementos que estão conformados no Rebouças compõe o patrimônio industrial. Importantes registros que expressam tanto a relação das pessoas, que ali trabalharam e que em parte
construíram a cidade, com o espaço, como a memória destes grupos sociais que testemunharam as modificações nela ocorridas ao longo do tempo.
Para a autora, “a paisagem do Rebouças é a expressao concreta da cultura que o originou e o transformou e pode ser considerada como um documento arqueológico autêntico das dinâmicas sociais impressas sobre o seu territorio” . Território este que tornou-se o centro econômico da cidade na primeira metade do século XX. Contudo, a Segunda Guerra Mundial, as crises econômicas, as mudanças tecnológicas e as políticas urbanas destinaram o bairro ao esvaziamento entre as décadas de 1940 e 1970, e à consequente decadência. Desde então, explica Florenzano, “nenhuma iniciativa pública ou privada destinada a esta área deu conta de sua complexidade pelo desconhecimento de sua importância e pela fragilidade das interpretações de seus conteúdos”.
Em vista das constantes ameaças de apagamentos históricos no Rebouças, reforçadas pela emblemática demolição da fábrica da Matte Leão em 2011, a pesquisadora viu a importância de deixar impresso uma parte deste estudo,
uma vez que ela entende que as “estruturas do bairro se constituem como elementos indispensáveis para a manutenção das características do espaço e do lugar de memória na construção do tempo presente” para a cidade de Curitiba.
FICHA TÉCNICA
Título: Um olhar sobre o patrimônio Industrial do Rebouças
Projeto gráfico: Susana Mezzadri
Produção: Jonas Prates
Páginas: 240
Formato: 21.00 X 26.00 cm
Acabamento: Livro brochura
Lançamento: 17/05/2022
ISBN: 978-65-00-42497-3
Tiragem: 1000 exemplares
Edição do autor, 2022
SERVIÇO
Lançamento do livro
Um Olhar Sobre o Patrimônio Industrial do Rebouças,
com palestra da autora Iaskara S. Florenzano
17 de maio – terça-feira
entre 17h e 19h30
Biblioteca Pública do Paraná – Auditório Paul Garfunkel
Rua Cândido Lopes, 133 – Centro, Curitiba
Aberto ao público
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Foto em destaque: Edifício da estação ferroviária, por Arthur WISCHRAL – Fonte: Casa da Memória.
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ASSESSORIA DE IMPRENSA
Abonico Smith
E-mail: [email protected]