Epígrafe:
“A vida é um espetáculo tão mal ensaiado que até os músicos de apoio acham que são protagonistas.”

Fiquei um tempo fora da vida pública. Não foi retiro espiritual, não foi sabático em Rajneeshpuram, muito menos contrato secreto com uma gravadora que prometia me transformar em um novo messias pop. A verdade é mais simples: cansei. Cansei de opinar, cansei de ser “voz”, cansei até de mim mesmo.
No Brasil, o silêncio é um privilégio — quase um luxo. A gente não se cala porque quer, se cala porque precisa se proteger. E quando digo silêncio, não falo daquele silêncio contemplativo de monges tibetanos, mas de um silêncio pragmático, de sobrevivência, o tipo que faz a gente desligar a TV antes que o noticiário consiga estragar de vez a digestão.
Mas o silêncio, como tudo na vida, enjoa. E como bom brasileiro, decidi voltar. Voltar a escrever, a compor, a me meter em um programa de rádio que ainda nem estreou, mas que já carrega o peso da promessa. Porque se é para recomeçar, que seja com a mesma ingenuidade de quem acredita que ainda dá para rir em meio ao colapso.
E que conjuntura! Olho para o Brasil e vejo um país que nunca consegue decidir se é uma república, uma monarquia tropical ou apenas um grande circo itinerante, com palhaços que não fazem rir. O governo é um eterno “quem não fez, fará pior”, e a oposição é aquela criança birrenta que acha que, se chorar bastante, ganha pirulito. No resto do mundo, a coisa não é muito diferente: líderes globais parecem personagens recusados de desenhos animados, com planos de dominação que fariam Coringa chorar de vergonha.
O planeta está numa fase em que qualquer manchete parece inventada por um roteirista bêbado. Guerras, golpes, discursos inflamados sobre democracia proferidos por gente que jamais leu uma Constituição. Enquanto isso, a tecnologia promete inteligência artificial, mas não consegue resolver a estupidez natural — que continua em alta e cada vez mais valorizada no mercado.
Nesse cenário, reapareço. Não como salvador, guru espiritual ou candidato a cargo público. Reapareço como cronista. Porque se o mundo é uma farsa, só nos resta rir. E se o Brasil é uma piada, melhor sermos nós a contar, antes que outros contem por nós.
Escrever, compor e falar no rádio é minha maneira de não aceitar a mediocridade como regra. É cutucar o tédio, é rir do ridículo, é observar que o rei está nu e flácido.
No fim, descobri que o gosto do sucesso é amargo. Porque sucesso, no Brasil, não é fruto de mérito: é só a capacidade de sobreviver às crises, às dívidas, aos boletos e à exaustão coletiva. Mas, como sempre, a vida insiste em se revelar nesse entremeio de tragédia e humor.
E a vida, meus caros, inevitavelmente, é Crônica.