Introdução à prancheta desta nova colunista

IvanaCassuli;Arquitetura

Crédito: Ivana Cassuli

Olá amigo! Se você se propôs a entrar aqui, gosto de pensar que é meu amigo, seja no plano real, virtual ou astral. Bem-vindo! Grata por estar comigo. Quero agradecer
também a Rádio Cultura AM 930 pelo convite e, especialmente, aos amigos Izabel Chimelli e Maurício Betti, pela oportunidade.

Me formei em arquitetura e urbanismo, na UFPR, em 1996. Do curso para cá, penso nessa atividade complexa, na maioria dos dias. Uma das questões que mais me instiga e intriga, foi a que escolhi para fazermos esse mergulho juntos. Quero te convidar, para refletirmos sobre qual o rumo que a arquitetura deve tomar, para contribuir
favoravelmente, na construção de uma tessitura social contemporânea saudável, equilibrada, possível.

Do projeto imaginário ao construído, da grande escala, até a mais íntima, vamos imaginar como poderemos nos apropriar dos espaços, coletivos e privados, utilizando o
máximo de seu potencial, mas sem agredir o meio em que se insere, respeitando seus usuários e os recursos disponíveis.

Para iniciar esse exercício reflexivo, quero contar um pouco sobre o que penso que seja, afinal, Arquitetura. Visto que posso imaginar que nem todos meus leitores sejam
colegas de profissão, acredito ser válido, dar uma geral sobre o tema.

 

ARQUITETAR

Subordinar o objeto ao contexto, onde o uso prático de uma linguagem, toma a dimensão de uma consciência pragmática e dialética, ao mesmo tempo.

Reflexão mental para a resolução de um problema, de maneira interdisciplinar. Quanto maior se dá essa interdisciplinaridade, melhor é seu resultado concreto.

Quando um arquiteto projeta, desenvolvendo uma ideia, sob vários pontos de vista, introduzindo o olhar do geólogo, geógrafo, paisagista, engenheiro, artista, decorador e,
principalmente, do humanista, ele atinge, provavelmente, uma boa arquitetura.

Projetar passa primeiro, pela necessidade de se apropriar de um espaço, antes natural, remodelando-o de acordo com o programa e suas possibilidades, atribuindo a ele,
função civilizatória. Diria então, que a prerrogativa ótica, deva ser humanista.

A empatia com os clientes, fornece dados preciosos. Entender como vivem, sua cultura e experiências, suas prioridades e perspectivas, seus sonhos e paixões, é um norte
decisivo. Quanto maior a sinergia, mais acertados serão os resultados finais do projeto.

Ler o espaço que vai ser transformado. Desde seu entorno. O bairro, com suas características sociais e de configuração urbana, a paisagem, a vegetação, o clima, a luz solar… é outra parte fundamental da investigação inicial, para um arquiteto em processo de criação.

Se ele for feliz nessa leitura primordial, de preferência, partindo de várias perspectivas, terá um bom mapa mental para orientar suas decisões conceituais e práticas.

Basta então, adaptar as questões funcionais, o programa de necessidades, o orçamento, as possibilidades e limitações legais, técnicas e do terreno, às informações coletadas sobre o cliente e o espaço, e surge o briefing, o conceito e as diretrizes, claro como água. Nem sempre, mas é o esperado no campo ideal.

Se tudo correr bem, nessa altura, parte-se para os croquis. Primeiros desenhos, normalmente, feitos à mão livre, que começam a definir o resultado formal das
informações coletadas e processadas. Hora do arquiteto recorrer a um olhar mais artístico, e incorporar ao seu traço único, elementos de composição, forma, volumetria,
cores, materiais e texturas. Nesse ponto, torna-se muito importante, possuir um vasto repertório, ter sua capacidade cognitiva voltada para a beleza e um ótimo poder de
síntese, para atingir um resultado de bom gosto, harmônico e inusitado.

Posso concluir então, que, a princípio, arquitetura é uma reflexão mental de caráter interdisciplinar. Mas não para por aí, obviamente, pois arquitetura só existe de fato, no
campo concreto. Na apropriação do espaço natural e no uso dos recursos disponíveis, é que o abstrato dialoga com o mundo real e o transforma.

Nisso, implica nossa responsabilidade de arquitetos, não só como profissionais, mas como cidadãos conscientes do planeta que vivemos. Acredito que a busca por uma boa
arquitetura, passa necessariamente, pelo caminho da sustentabilidade. Para mim, isso tem se tornado uma questão cada vez mais essencial.

Como estamos usando os recursos da Terra? Cimento, areia, metal, vidro, pedra, madeira e água, são os principais elementos presentes na concretização da ideia
arquitetônica. Até quando poderemos usufruir dos recursos não renováveis da natureza?

Como compatibilizar as demandas do ser humano – crescemos em uma taxa média anual de 80 milhões de pessoas a mais no planeta – pelo espaço construído, sem
danificar, esgotar, sujar e sobrecarregar o único ponto no espaço sideral que conhecemos como habitável?

Esse é o eixo principal da investigação que pretendo conduzir aqui. Passaremos com essa linha de raciocínio, pelos vários subtítulos da arquitetura. Vou compartilhar alguns tópicos, que gostaria de explorar. Assim, você pode ter uma prévia, um vislumbre de em que águas vamos navegar.

1. Algumas outras leituras, de arquitetos renomados, sobre o que pensam ser arquitetura. Que lições nosso passado pode trazer para a condução acertada da
profissão? A observação da história, no processo de projeção do futuro.

2. Sustentabilidade na construção. Uso consciente de recursos e insumos. Novas técnicas e soluções alternativas. Reutilização de matéria prima e manufaturada.

3. Arquitetura e sua função social e política. Espaços públicos. Arquitetura acessível. Escala humana e percepção sensível na formatação do uso dos ambientes.

4. Polis – urbanismo. Para onde caminham as cidades. Grandes aglomerações humanas e suas consequências. Caminhos possíveis para a boa interação com o
espaço urbano. Relações de respeito à coletividade e ao convívio social.

5. Refúgios modernos. Arquitetura como oásis. Equilíbrio para o stress urbano. Como gerar o momento da descompressão, da acolhida e do remanso no espaço
construído.

6. Design de Interiores. Significados do habitar. Casa e lar. Como o arquiteto contribui para o espaço íntimo, de maneira, a respeitar suas particularidades. O
que é importante, e o que é fundamental.

7. Feng Shui como ferramenta para o equilíbrio energético do espaço de interação. Elementos a serem notados, e como mantê-los em harmonia e equilíbrio.

8. Volta à natureza. O crescimento do paisagismo no cenário da construção atual. A importância de uma relação constante com os elementos naturais, como forma
de manter a saúde física, mental e espiritual.

9. O olhar do arquiteto sobre a relação do ser humano com o espaço. Como contribuir para que essa relação seja o mais inteira e saudável possível? Provável que ao longo do caminho, outros itens sejam lembrados, acrescentados ou modificados. Nada é assim rígido, mas dá para ter uma noção geral dos temas que proponho analisar.

Obrigada por me acompanhar até aqui. Espero ter sua companhia no próximo mergulho. Até semana que vem. Abraço!