Principal disc jockey da música nacional, radialista mudou linguagem, comportamento e apresentou tudo que era moderno ao público ouvinte de seu tempo
Se você ouve rock hoje no Brasil provavelmente você deve algum tributo a um sujeito chamado Newton Alvarenga Duarte. Essencialmente um disc jockey. O mais importante da história. Responsável por uma reviravolta no rádio brasileiro.
Duarte nasceu no Rio de Janeiro em 1943. Cresceu apaixonado por música, e atravessou as décadas de 1940 e 50 testemunhando a febre do bolero, o advento do samba-canção e a criação da bossa nova. Mas não passou incólume ao estouro do rock’n roll.
A paixão pela música passou invariavelmente por outra: o rádio. Foi através das ondas médias dos aparelhos que constavam nas casas de classe média brasileira onde o pequeno Newton pôde testemunhar a revolução que acabara de chegar a seus ouvidos.
Ainda muito novo, iniciou um hobby que o acompanharia por toda a vida. Começou a comprar discos desenfreadamente. E quanto mais o pequeno crescia (e crescia a olhos vistos, pois Duarte padecia de sobrepeso) mais discos ele comprava.
O interesse pelo rádio foi marcante, tanto que o garoto começou a frequentar os estúdios. Especialmente os da rádio Tamoio, no centro do Rio. Tratava-se da antiga rádio Educadora (1927) que desde 1944 fora comprada pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, quando mudara seu nome. Uma emissora praticamente da idade do garoto, portanto. A Tamoio foi revolucionária em seu tempo. Foi lá que um certo Abelardo Barbosa, vulgo Chacrinha, começou a se tornar popular, por exemplo. Era ainda a rádio que tocava a programação mais sintonizada com o mundo em sua época.
Era a época dos fãs clubes, muito especialmente dedicados à bossa nova, ou a cantores específicos, cujo maior de todos era o brasileiro Dick Farney. Newton Duarte não era exatamente membro de nenhuma dessas associações, que se saiba, mas era um fã em potencial, em si próprio.
Já com o corpo possuído pelo demônio do rock’n roll procurava pelos programadores da rádio, atrás de novidades e solicitando listas de músicas a serem tocadas na programação. A verdade é que Newton, então um pacato professor de geografia, já procurava uma oportunidade profissional. Demorou, mas em meados dos anos 1960, a Rádio Mundial passou por uma reformulação e o garoto foi convidado a fazer parte de sua nova equipe.
Aí começa uma revolução total. Newton assume o apelido de Big Boy, e introduz no rádio brasileiro nada menos que uma banda de Liverpool que acabara de estourar na Inglaterra chamada The Beatles. Nascia o iê-iê-iê, nascia o primeiro beatlemaníaco, mas principalmente: nascia a lenda Big Boy.
E o jovem Big Boy não estava para brincadeira. Comandava dois programas diários na Mundial do Rio: o Big Boy Show e o Ritmos de Boite. Ainda estendeu suas atividades à rádio Excelsior em São Paulo, em fitas enviadas para a capital paulista. E criou um especial de Beatles para a Mundial, semanal, o Cavern Club, que difundiu a beatlemania pelo país.
Veio a Tropicália, vieram os festivais, e a contracultura se instalou na estética do jovem médio brasileiro. Big Boy não ficou atrás. Em 1970, comandou a festa Baile da Pesada. Uma balada na qual apresentava as novidades da black music americana. No embalo, nomes do soul nacional como Tim Maia, Cassiano, Hyldon e Frankie & Jorge infestaram a programação das rádios, sempre a partir da apresentação inicial no Baile da Pesada de Big Boy.
Vem dessa época o jargão radiofônico que o imortalizou: “hello, crazy people!”. Praticamente um grito de guerra que anunciava sua entrada no ar.
Pode-se colocar na conta de Big Boy, portanto, o nascimento dos primeiros bailes black do Rio de Janeiro. Big Boy foi a Londres no embalo dos exilados. Acompanhou de perto parte da gravação de Let it Be, dos Beatles e foi o primeiro DJ brasileiro a tocar o novíssimo hit, no final de 1970.
Em 1973, por cerca de 8 meses, comandou na TV Record o programa Papo Pop, com bandas e cantores de rock. Made In Brasil, Casa das Máquinas, Incríveis, Mutantes, Secos & Molhados e muitos outros se apresentaram na atração. No Jornal Hoje da Rede Globo, ainda em seus primórdios, apresentou o Film Clips, com as novidades do universo da música pop da época. Realizou para a Eldorado FM um especial de rock progressivo. Manteve colunas sobre música jovem em jornais e revistas. Participou do humorístico Chico Anysio Show. Big Boy atacou em todas.
Foi amigo de Rick Wakeman, que veio ao Brasil em concerto lendário de 1975. Mudou a linguagem do rádio para sempre. Na introdução do FM, era o principal nome do rádio jovem brasileiro. E ajudou a inaugurar a linguagem que até hoje se pratica, de informalidade e adequada ao público ouvinte.
Big Boy foi um furacão. Morreu devido a um ataque de asma, em 1977, em um quarto de hotel em São Paulo. Tinha 34 anos. Ao saber do ocorrido, em Londres, Rick Wakeman interrompeu o show que realizava, pedindo um minuto de silêncio à plateia. O público, mesmo sem saber de quem se tratava, respeitou solene.
Hello, crazy people!
…
Ouça. Leia. Assista:
Big Boy – Documentário de Leandro Petertsen
…
Imagens: reprodução