Em cartaz no Festival de Curitiba, o monólogo O céu da língua, estrelado por Gregório Duvivier, é uma ode ao idioma português em suas formas mais populares e mutáveis. A montagem, que estreou com sessões esgotadas em Portugal no ano passado, retornou ao país europeu no início de 2025 após enorme sucesso de público.
Durante coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (04), na Sala de Imprensa Ney Latorraca, no Hotel Mabu, Duvivier comentou sobre a recepção calorosa – e curiosa – do público português, especialmente diante das tensões linguísticas que envolvem o chamado “brasileiro”. “Eles adoram a nossa poesia. Implicam sim, mas quando a criança começa a falar como o Luccas Neto. Se estivessem falando como Chico ou Caetano, não teria problema”, ironizou o humorista, que é pai de duas meninas, Marieta e Celeste.
O fenômeno, segundo ele, está ligado à forte influência do YouTube e de youtubers brasileiros, que têm alterado o vocabulário das novas gerações em Portugal. Apesar disso, Duvivier minimiza qualquer tipo de hostilidade. “É claro que existe um preconceito contra brasileiros em Portugal, até mesmo xenofobia, mas a gente mesmo não sentiu isso.”
Com um olhar atento sobre as mudanças no consumo cultural, o ex-apresentador do Greg News também contestou dados recentes sobre a queda na leitura entre brasileiros. “Acho que as pessoas estão lendo de um outro jeito”, afirmou, citando o universo das fanfics e o interesse crescente por linguística no TikTok. Ele destacou ainda o perfil “Tupinizando”, do estudante de Filosofia Mateus Oliveira, que busca resgatar o nheengatu, a língua mais falada no Brasil até o século 18.
Entre as inspirações para o espetáculo, Duvivier mencionou dois livros do curitibano Caetano Galindo – Latim em pó e Na ponta da língua –, que analisam o português falado no Brasil. “O que o Caetano faz pela língua portuguesa é absolutamente indispensável. Ele vulgariza a língua, no bom sentido. Isso faz muito bem ao idioma.”
Na seara poética, o ator do Porta dos Fundos não poupou elogios ao paranaense Paulo Leminski. “Alguns poetas chegaram lá. Dá a impressão de que são insuperáveis. O Leminski é um deles, pelo poder de síntese que tinha.”
Duvivier também exaltou o caráter democrático do Festival de Curitiba, com destaque para segmentos como o Risorama e a Mostra Fringe. “O festival não deixou de ser reconhecido e respeitado porque abraçou a comédia e o teatro popular. Ele não é elitista, como a maioria dos festivais de teatro. É muito bom estar aqui.”
No encerramento da coletiva, o elenco compartilhou suas palavras favoritas da língua portuguesa. Gregório escolheu “marimbondo”, de origem angolana; sua irmã e assistente de direção, Theodora Duvivier, optou por “cumbuca”; o músico Pedro Aune escolheu “inclusive”; e a diretora Luciana Paes, com um toque de humor, declarou: “Eu gosto de ‘almôndegas’”.
E quem não gosta?