Dona da voz mais cristalina da música brasileira, artista foi antes de tudo um ícone de luta estética e política. Uma mulher fatal para os caretas
Maria da Graça Costa Penna Burgos nasceu em 1945 no bairro da Graça, em Salvador. Ela era filha de Mariah Costa Pena e Arnaldo Burgos e a influência artística veio desde a barriga da mãe. Mariah contava à cantora que, quando estava grávida, ficava ouvindo música clássica como se fosse um ritual, para que o bebê fosse, de alguma forma, “uma pessoa musical”.
Sua estreia foi na década de 1960, ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Zé e Gilberto Gil, no espetáculo Nós, Por Exemplo. Já com o “apelido” e nome artístico Gal Costa, se estabeleceu em São Paulo em 1964, morando em uma quitinete na avenida São João. Ficou na capital paulista até 1969, quando seus parceiros Gil e Caetano foram exilados em Londres. Foi viver no Rio de Janeiro, onde passaria os próximos 24 anos.
Durante este período de exílio, era Gal quem atravessava o oceano ver os amigos na Inglaterra. De lá trazia as novidades da contracultura, que aplicou em tudo, desde sua musicalidade rock e psicodélica até o comportamento e visual hippie ao extremo, com cabelo black power e muitas cores e sensualidade. Marcou época em Ipanema, próximo ao posto 9, onde uma parte da praia na qual o povo se reunia ficou conhecida como as “Dunas da Gal”.
E os discos, nos quais interpretava especialmente as canções de Caetano, foram petardos em série, desde Gal (1969), passando por Fa-tal – A Todo Vapor (ao vivo, 1971) e Índia (1973), entre outros. Chocava com a exposição de seu corpo seminu, mas especialmente encantava com sua interpretação lancinante.
É considerada a pessoa que segurou o estandarte do Tropicalismo quando os amigos estavam exilados. Foi de fato a porta-bandeira e também a mestre-sala do que restou do movimento. Adentrou os 1980’s sem deixar a peteca cair, sempre acompanhando a sonoridade moderna, lotando shows Brasil e mundo afora. Tocou no Carnegie Hall com Tom Jobim e aí não havia mais fronteiras para a garota de Salvador.
Morreu dia 9 de novembro de 2022, aos 77 anos. Era mãe adotiva, transgressora, radar de várias gerações, e ainda fez o L. Gal se foi. A todo vapor.
Estamos um tanto sem voz.
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Ouça. Leia. Assista:
Fa-tal – Gal a Todo Vapor 1971 – Completo
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Imagens: reprodução