Festa de São Gonçalo celebra cultura quilombola em Arapoti


A cidade de Arapoti, no Paraná, foi palco de uma grande celebração cultural e religiosa entre os dias 14 e 16 de fevereiro de 2025. A tradicional Festa de São Gonçalo, organizada pela Família Xavier, reuniu uma programação diversificada com manifestações artísticas, oficinas culturais, feiras de artesanato e momentos de devoção ao santo homenageado. O evento, que aconteceu no Centro Estudantil e em outros espaços da comunidade, reforçou a importância da cultura quilombola na preservação da memória e da identidade local.

Abertura oficial e participação de lideranças

A cerimônia de abertura, realizada na sexta-feira (14), contou com a presença de lideranças comunitárias, representantes políticos e membros da cultura e educação de Arapoti. Entre os participantes estavam Fernando, Bárbara, Leonice, Maria Olívia (vereadora), Edilene, Padre Anderson (Matriz São João Batista), Jan Pot (vice-prefeito), Terezinha, Marineu Jr. (vereador), Silmara e Lenice.

A abertura artística ficou por conta do Coral Clave de Prata, seguido das apresentações de danças das Escolas Municipais Telêmaco Carneiro e Romana Carneiro Kluppel e do Grupo Mirim Dandara, formado por crianças da Comunidade Quilombola Família Xavier.

Cultura, memória e tradição

A Festa de São Gonçalo destacou a valorização das tradições ancestrais e da memória coletiva dos quilombolas de Arapoti. Um dos momentos mais significativos foi a Roda de Conversas com as Anciãs da Comunidade, em que a história da região foi resgatada por meio da oralidade. A memória de Tia Juza e de outras quilombolas, como Cláudia e Adriana do Quilombo Restinga da Lapa, trouxe reflexões sobre a luta pelo direito ao território e a preservação do cemitério dos ancestrais quilombolas.

A antiga Fazenda Boa Vista, onde mais de 100 famílias descendentes de Pedro Lázaro Xavier viveram, foi lembrada como um símbolo da resistência quilombola. No local, o cemitério tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) guarda histórias de segregação e luta, representadas pela figueira que cresce sobre os túmulos, um símbolo da força da natureza e da memória viva do povo quilombola.

Oficinas e feira de artesanato

No sábado (15), diversas oficinas promoveram o intercâmbio de saberes e o fortalecimento da identidade afro-brasileira. A Oficina de Tranças, conduzida por @boxbraids_afrohair, destacou a importância cultural das tranças afro, tanto como símbolo de resistência quanto como prática profissional contemporânea.

A quilombola Cláudia, do Quilombo Restinga, ministrou a Oficina de Fibras de Bananeira, ensinando a técnica ancestral de aproveitamento da fibra para a produção artesanal. Já Angela Hundzinski conduziu a Oficina Quilombola Abayomi, ensinando a confecção das tradicionais bonecas de pano sem costura, que carregam o significado de afeto e resistência cultural.

Além das oficinas, a feira de artesanato reuniu expositores de várias comunidades quilombolas do Paraná, incluindo Piraí do Sul, Castro, Curiúva, Guajuvira, Adrianópolis, Ventania, Ponta Grossa, Palmeira, Lapa e Curitiba. Entre os produtos vendidos, estavam itens de decoração, acessórios e as tradicionais sementes crioulas, símbolo da luta contra a monocultura e a agricultura transgênica.

Música, dança e celebração

A programação cultural contou com apresentações marcantes, como a roda de capoeira da ACAPRAS – Academia de Capoeira “Praia de Salvador”, que envolveu a comunidade na prática dessa arte afro-brasileira.

O Grupo de Maracatu Aroeira trouxe a energia dos tambores e ritmos afro-indígenas, arrastando o público para uma grande celebração. A noite de sábado foi encerrada com um bailão animado pelos grupos Campeiros da Tradição de Arapoti e Garotos do Sul de Castro, garantindo diversão ao público presente.

A devoção a São Gonçalo

O domingo (16), último dia do evento, foi dedicado à fé e à religiosidade. Três rodadas da tradicional Dança de São Gonçalo foram realizadas, reunindo promesseiros e devotos que dançaram em frente ao altar, em agradecimento pelas graças alcançadas. O ritual, comum em diversas regiões do Brasil, é uma manifestação popular de devoção e herança cultural.

Após a dança, a comunidade se reuniu para um almoço no Salão Paroquial Sagrada Família, com um cardápio preparado por cozinheiras locais, incluindo arroz, feijão, frango, linguiça, carne de porco e farofa.

Preservação cultural e apoio institucional

A Festa de São Gonçalo 2025 reafirmou a importância da cultura quilombola para a identidade da comunidade de Arapoti. O evento foi viabilizado por meio de um projeto aprovado com apoio da Copel e incentivo do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (Profice), da Secretaria de Estado da Cultura e do Governo do Estado do Paraná.

A celebração reforçou a necessidade de manter vivas as tradições quilombolas, garantindo o fortalecimento da memória coletiva e o reconhecimento da contribuição afro-brasileira para a cultura nacional.