DICA DA EMA – RAW

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Muito tem se falado sobre o longa-metragem de estreia da diretora francesa Julia Ducournau. O filme narra as experiências de Justine, uma vegetariana tímida e inocente, ao ingressar no curso de medicina veterinária. Durante os trotes, a garota é forçada a comer carne crua, o que desperta em Justine uma vontade irresitível de comer carne humana.

Rumores de desmaios durante exibições em festivais de cinema deram a esta obra a fama de ser perturbadora, chegando a fomentar comparações com o cinema extremo francês das décadas de 90 e 2000. De fato, algumas cenas são bastante desagradáveis, mas a comparação é injusta. Em toda a obra, não há nada que se aproxime de cenas como o take de dez minutos de estupro em Irreversible (para citar um cena clássica). Dito isto, Raw é um filme de muita qualidade. A fotografia é excepcional, com cenas amplas e espaçadas intercaladas com cenas claustrofóbicas, de acordo com as intenções da narrativa. Aspectos sonoros e visuais combinam-se para gerar uma atmosfera de inquietude pervasiva, espelhando a própria insegurança da personagem. Garance Marillier consegue dar a Justine bastante profundidade, o que compensa um roteiro simplório.

A diretora claramente favorece forma sobre substância: podemos nos deslumbrar com as cenas, por vezes sentir asco, mas assim que o filme acaba, pouco resta para refletir. O final, embora surpreendente e bem encaixado, acaba inócuo por falta de profundidade emocional. Em relação à simbologia, novamente houve bastante exagero por parte da crítica, que viu no canibalismo de Justine metáforas de todo o tipo: a descoberta da sexualidade, anorexia, inseguranças a respeito do corpo, etc. O espectador certamente apreciará melhor o filme tomando-o por aquilo que é: uma excelente obra de terror, sobretudo nos aspectos visuais, mas que pouco se esforça para ir além disso. Afinal, com o perdão do trocadilho, por vezes um dedo é apenas um dedo.