CACOS DO OFÍCIO

WagnerRengel;FaenaRossilho

Mosaico em tempo - Crédito: Faena Rossilho

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Sou feito em pedaços,

juntado,

costurado,

colado,

encaixado,

soldado

Difícil ser rápido sem me deixar caído para trás

quebrado,

rasgado,

desencaixado,

desconjuntado,

trincado

 

Vou com cuidado

Sou lento com banalidades

Cálculos matemáticos

 

Matemas, grafos, esquemas

 

Me equilibro em linhas escritas

Tropeço, derrubo e ergo

Existo no erro, na incerteza

 

No intervalo apareço

desatento

 

E vou me perdendo

O que ficar por aí

Às vezes

deixo

Letras desamparadas

sem sentido

Se juntam em coletivos de perdidas

Anarquistas

Pichações

Incompreendidas

 

 

Nesse ofício disso

Não só eu

No escrito

No dito

 

Um som caído

Órfão de boca, frase

Minguado, baixinho

Fraco

Sem sentido

 

Chegue mais perto

Escute

 

Seria um som de amor?

Caído

 

Que não alcançou o ouvido

Buraco, furo, orifício

Ficou por ali perdido

 

Se não encontrar nova boca

Logo vira mutismo

E tudo estará destruído

 

Tem som que se não bate no peito

Nem deveria ter sido feito

Jurado ou prometido

 

Talvez o vazio que se tem

É tudo o que não se dá

 

Aí sim

Sem sentido

Sem letra

Nem som

 

Só um lugar

Tigela, pote ou bacia

Para juntar os cacos

Catados

 

Tipo um mosaico

Criado

Inventado

 

Eita, que caos nessa coisa

Palavras, sons e nada

Ocos estardalhaços

 

 

Vou me catar

Estou caído

Sou feito em pedaços.

 

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