Azarão de 2023, produtor brasileiro pode levar Oscar de Melhor Filme


O brasileiro Daniel Dreifuss corre o sério risco no próximo dia 12 de março de subir no palco do Dolby Theater, em Los Angeles, para receber o Oscar de Melhor Filme, ao lado do alemão Malte Grunert
Oscar 2023 (95th Academy Awards)
Dolby Theater, Los Angeles – 12 de março
Transmissão: GloboPlay e TNT
Os dois são os produtores de Nada de Novo no Front (All Quiet on the Western Front, da Alemanha), grande azarão dentre os indicados de 2023 à cobiçada estatueta. Distribuído mundialmente pela Netflix, com pálida presença nas salas de cinema, arrebatou uma legião de fãs e seguidores na Internet, bombando nas últimas semanas entre os eleitores filiados à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, promotora da láurea há 95 anos.

Ao lado da comédia Os Banshees de Inisherin (The Banshees of Inisherin, da Inglaterra), Nada de Novo no Front recebeu indicações a nove prêmios do Oscar, incluindo os de Melhor Filme e de Melhor Filme Internacional, além de seis categorias técnicas e de Melhor Roteiro Adaptado. O campeão de indicações é Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once, dos EUA), candidato a onze estatuetas. Afora essa trinca, o Oscar de Melhor Filme tem chances de ir para Os Fabelmans (The Fabelmans, dos EUA) em reconhecimento ao grande Steven Spielberg. Poucas são as chances dos demais seis filmes (lista de indicados abaixo).
A novidade do anúncio de indicados na última terça-feira, 24, ficou por conta mesmo de Nada de Novo no Front, o filme alemão sobre os horrores da guerra, que até poucas semanas era cotado apenas para Melhor Filme Internacional.
Aos 44 anos, o produtor brasileiro Daniel Dreifuss já é um veterano na área. Em 2013, concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (ou de Língua Não-inglesa) como produtor do filme No, estrelado por Gael Garcia Bernal, representando o Chile e contando sobre o referendo que derrotou Augusto Pinochet. O surpreendente é que o filme alemão não foi lembrado entre os indicados dos grandes prêmios que antecedem o Oscar, como Globo de Ouro e Critic’s Choice Award. Nada de Novo no Front concorreu até agora apenas na categoria de filme estrangeiro.
Não resta dúvida que o grande azarão do Oscar 2023 é o mais novo fenômeno da Era do Streaming, em que um filme feito para ser distribuído num serviço de assinatura de TV se iguala às grandes produções e obras da indústria cinematográfica. Nada de Novo no Front, a rigor, não traz nada de novo no front (desculpem pela piadinha). É uma terceira versão para o cinema do livro homônimo, de Erich Maria Remarque, escrito em 1929. O filme é acadêmico, com timing preciso, roteiro linear e cinematografia realista ao extremo.
Ou seja, tem tudo para dar certo dentro dos padrões conservadores da Academia de Hollywood. E, pelo visto, já deu boa! Nada de Novo no Front possui acabamento perfeito. Não por menos, concorre ao Oscar em seis categorias técnicas. São elas: Melhores Trilha Sonora, Som, Fotografia, Cabelo e Maquiagem, Efeitos Visuais e Design de Produção. Tem chances em todas elas. O número de estatuetas que irá levar vai depender agora do quanto a sua cotação subir no mercado mundial, principalmente nos streamings.
Uma coisa é praticamente certa: Daniel Dreifuss e Malte Grunert já podem passar a ferro os smokings e preparar os discursos para receberem a estatueta pela melhor produção de Filme Internacional. Essa é barbada!

Mas a parada rumo ao prêmio máximo não vai ser nada fácil para os produtores brasileiro e alemão. O franco favorito a Melhor Filme ainda é a produção norte-americana com cara de filme coreano Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. As onze indicações que recebeu dão a exata dimensão do potencial para ser o grande vencedor da noite. Mas a Academia nem sempre é tão previsível assim. O filme, também distribuído pela Netflix, pode morrer pelos excessos que o notabilizaram.
Celebrado pelas qualidades técnicas e de edição, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo peca por exagerar nas doses de tecnologia, reviravoltas atabalhoadas e ambientações distópicas sem pé, nem cabeça. O roteiro é dos melhores, não perde o ritmo e nem os objetivos. Mas impõe uma velocidade incômoda para boa parte da plateia – especificamente, a parte mais idosa. Não por menos o seu sucesso veio das gerações criadas com um joystick de videogame nas mãos. É cinema de streaming feito para a molecada.
Em contraponto aos filmes da Era do Streaming, Os Banshees de Inisherin e Os Fabelmans se apresentam como legítimos representantes da cinematografia clássica dos estúdios de Hollywood e dos grandes mestres. Ambos são pensados e executados para serem vistos nas telonas das salas de cinema. Mas as semelhanças param por aí. Os Banshees de Inisherin é uma comédia de produção inglesa que se caracteriza por um andamento pausado e de muita leveza nos diálogos e em sua produção.
A história do rompimento da amizade entre dois velhos amigos é ambientada numa ilha desértica do friorento litoral norte irlandês. A beleza cênica e a captação das paisagens são deslumbrantes. As imagens dos animais de criação e selvagens são hilárias. Até a Guerra Civil da Irlanda é ironizada. Todo esse bom humor e esmero são quebrados por um roteiro muito bem construído que reserva cenas de extrema insanidade e crueldade. O filme vai da comédia ao drama em questão de segundos. Pesa a seu favor ainda o elenco de atores tarimbados e afinados entre si.

Steven Spielberg entra na lista dos favoritos ao Oscar por osmose. Os Fabelmans é mais uma de suas obras-primas, já consagrado como seu melhor filme dos últimos 20 anos. A autobiografia é entremeada por cenas romantizadas e até ficcionais. Mas isso não importa. Spielberg abre o coração para contar intimidades da família, as dores da separação dos pais, os primeiros filmes feitos em Super-8, o primeiro romance e o duro processo de amadurecimento de um garotinho de 7 anos até virar o jovem que começa a despontar pelo talento nato como cineasta.
Os Fabelmans será o primeiro dos sete filmes que concorrem ao Oscar a serem resenhados por este articulista que será lançado neste domingo, 29, no site da Cultura AM 930. Até o próximo dia 12 de março, data do Oscar, serão lançados na sequência as resenhas de Nada de Novo no Front, Os Banshees de Inisherin, Tár, Glass Onion, Elvis e Top Gun: Maverick. O objetivo é orientar e contar um pouco sobre o que se pode esperar de cada filme. Enfim, despertar o interesse de quem gosta de cinema e está afim de aprofundar a discussão.
Para quem pensava que neste ano não haveria um brasileiro para quem torcer, o filme alemão Nada de Novo no Front corre pelas raias de fora. Historicamente, o Oscar de Melhor Filme sempre foi o reconhecimento máximo de uma grande atuação ou direção, consagrando astros e estrelas na constelação da indústria cultural. Ocorre que essa lógica tem sido rompida nos últimos anos.
O prêmio tem sido dirigido não mais para celebrar nomes e, sim, para estabelecer causas. Saiu o personalismo, entrou o ativismo. Basta lembrar do ano passado, quando o franco favorito Ataque dos Cães, da genial diretora Jane Campion, morreu na praia perante a simplicidade e singela causa dos surdos em No Ritmo do Coração (CODA). Sem dúvida, o alemão Nada de Novo no Front é um panfleto ativista antibélico de primeira qualidade sendo entregue neste exato momento a corações e mentes de milhões de adolescentes e jovens do globo terrestre.
Em 12 de março, saberemos se a entrega sairá melhor que a encomenda!
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Indicados a Melhor Filme:
Nada de Novo no Front
Avatar: O Caminho da Água
Os Banshees de Inisherin
Elvis
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
Os Fabelmans
Tár
Top Gun: Maverick
Triângulo da Tristeza
Entre Mulheres
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Imagens: Reprodução