Cineasta, escritor e jornalista teve papel importante no cinema nacional e depois destacou-se como uma das vozes mais fortes da crônica política
Arnaldo Jabor nasceu no Rio de Janeiro em 1940, filho de um oficial da aeronáutica e uma dona de casa. Em sua juventude ganhou a vida como técnico sonoro, roteirista e crítico de teatro.
O jovem Jabor já era portanto um “homem de cinema” que se desenvolveu dentro do cenário provocativo do Cinema Novo, mesmo antes de estrear na direção. Influenciado pelo neorrealismo italiano e a nouvelle vague francesa, realizou sua própria interpretação do que seria um cinema nacional.
Quando dirige a primeira vez, já fazia parte da chamada segunda geração cinemanovista. Estreia com o documentário em longa-metragem Opinião Pública (1967). O filme versa sobre a vida real da classe média baixa do Rio de Janeiro, em perguntas e respostas que visam saber o que pensam aqueles brasileiros.
Em 1970, o intenso cineasta realiza Pindorama. Segundo o próprio Jabor, este filme “se perde em suas alegorias barrocas e na visão radical que empreende contra a concepção clássica de cinema”. Mas em 1973 Jabor alcançaria o grande público e arrancaria elogios da crítica, com Toda Nudez Será Castigada, baseada em texto teatral de Nelson Rodrigues.
Foi no ambiente rodrigueano que o cinema de Jabor encontrou sua atmosfera ficcional ideal. A prostituta Geni, imortalizada por Darlene Glória, conquista Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim.
Em O Casamento, de 1975 Jabor segue a trilha de Nelson Rodrigues mais uma vez, em roteiro tão ácido e corrosivo quanto o filme anterior. Novamente é premiado: recebe o Kikito de Ouro de melhor atriz coadjuvante para a intérprete Camila Amado.
Após essas duas adaptações, a partir dali Jabor inicia uma trilogia com roteiros originais de sua autoria. Tudo Bem (1978,) inicia a chamada Trilogia do Apartamento, e ganha melhor filme no Festival de Brasília.
Eu Te Amo, de 1980, disseca um relacionamento amoroso, com atuações memoráveis de Paulo César Pereio e Sônia Braga. Eu Sei que Vou Te Amar (1986) protagonizado por Fernanda Torres (melhor atriz em Cannes) e Thales Pan Chacon, segue como um processo de autoanálise de suas relações amorosas.
No início dos anos 1990 Fernando Collor de Mello tinha acabado de acabar com o cinema nacional e Jabor fica sem grana. Procura trabalho como profissional de imprensa. Realiza algumas reportagens especiais e depois se torna colunista do jornal O Globo, 1995. Logo em seguida avança para a televisão, onde torna-se comentarista em jornais da Rede Globo: o Jornal Nacional, Jornal Hoje e o Bom Dia Brasil. Sua crônica era reproduzida também na rádio CBN. Escreveu vários livros, com destaque para Pornopolítica, um best-seller.
Nos últimos anos, arrumou bastante encrenca e desafeição por parte de antigos amigos, colegas e admiradores. Jabor apoiou descaradamente o golpe de 2016, que depôs a presidente Dilma Rousseff.
Independente do espectro político no qual a pessoa esteja, parece incrível que um sujeito com um currículo tão notável não percebesse que aquilo resultaria em uma ascensão meteórica do fascismo. Dito e feito: Jabor tenta se redimir sendo um dos mais afiados críticos do governo Bolsonaro. Todos sabemos que agora não adianta nada. De toda forma, era possível reconhecer em suas espessas olheiras o amargor do arrependimento.
Arnaldo Jabor nos deixou neste dia 15 de fevereiro de 2022, após complicações de um AVC que sofrera em dezembro de 2021, pelo qual permanecia internado desde então.
Morreu um dos maiores nomes do cinema brasileiro de todos os tempos.
…
Ouça. Leia. Assista:
Tudo Bem (1978), dir. Arnaldo Jabor
…
Imagens: reprodução