Cidades como Cuauhtémoc (México) e General Pico (Argentina) implementam soluções sustentáveis e acessíveis para o reaproveitamento do resíduo, enquanto no Brasil a coleta segue limitada e dependente de ações privadas.
Enquanto países da América Latina avançam em políticas públicas para a reciclagem de óleo vegetal usado, o Brasil ainda enfrenta grandes desafios na área, especialmente no que diz respeito à conscientização da população e atuação do poder público.
No México, a cidade de Cuauhtémoc instalou 35 pontos de coleta de óleo usado em mercados públicos. A iniciativa busca transformar o resíduo em biocombustível, ao mesmo tempo em que evita problemas frequentes como entupimentos nas redes de esgoto.
Na Argentina, o município de General Pico intensificou a coleta de óleo vegetal usado com o mesmo objetivo: evitar a contaminação dos rios e gerar biodiesel localmente, promovendo economia circular.
Essas ações contrastam com a realidade brasileira. Segundo Vitor Dalcin, diretor da empresa recicladora Ambiental Santos, o país ainda depende quase exclusivamente da iniciativa privada para lidar com esse tipo de resíduo.
“As empresas estão preparadas para a coleta. O problema é a falta de conscientização da população e a ausência de políticas públicas integradas”, afirma Dalcin.
Ele destaca que campanhas conjuntas entre poder público e empresas privadas poderiam ser o caminho para transformar o cenário atual.
“Veja o exemplo do combate à dengue ou as campanhas de trânsito. Quando há mobilização institucional, os resultados aparecem. O mesmo pode acontecer com a reciclagem de óleo”, completa.
De acordo com uma estimativa da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais), com base em dados de 2019, menos de 10% dos óleos descartados no Brasil são reciclados. Dos 1,17 bilhão de litros potencialmente coletáveis naquele ano, apenas 108 milhões de litros foram destinados de forma correta.
Um problema ambiental e de saúde pública
O descarte incorreto de óleo vegetal — como jogar na pia ou no vaso sanitário — pode causar graves danos ambientais, além de prejuízos à infraestrutura urbana. Um único litro de óleo pode contaminar mais de 20 mil litros de água e contribuir para entupimentos que sobrecarregam sistemas de esgoto.
A criação de pontos públicos de coleta, como ocorre em outras cidades latino-americanas, poderia ajudar a mudar esse cenário, além de gerar oportunidades econômicas com a produção de biodiesel e sabão ecológico.