A Amazônia é muito mais do que um cartão-postal de paisagens exuberantes. É um território repleto de contradições, histórias silenciadas e resistência cotidiana. É nessa complexidade que mergulha Myriam Scotti — escritora, crítica literária e mestre em Literatura — em sua nova obra, “Sol abrasador prepara solo fértil” (Editora orlando, 2025, 136 págs.). A coletânea de contos marca sua estreia no gênero e inaugura o catálogo da jovem editora.
Com uma prosa que transita entre o lirismo e a denúncia social, Myriam constrói um mosaico de vozes amazônicas — seringueiros, mulheres periféricas, trabalhadores urbanos — que enfrentam um cotidiano onde beleza e hostilidade coexistem. A apresentação do livro é assinada por Bianca Santana, escritora e colunista da Folha de S.Paulo, enquanto a orelha é de autoria da escritora e crítica Thaís Campolina.
Lançamentos em Manaus e na Flip 2025
A autora terá dois momentos marcantes de lançamento. Em Manaus, sua cidade natal, o evento acontece no dia 16 de agosto, às 17h30, no Casarão de Ideias, com bate-papo ao lado da escritora e professora Elaine Pereira Andreatta.
Já na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) 2025, Myriam participa de duas mesas:
📚 31 de julho, às 9h30 – Na Casa Escreva, Garota! (Travessa Gravatá, 56 c/d), conversa com Bianca Santana sobre “Como a literatura exerce a prática da alteridade em territórios ainda tidos como ‘exóticos’ ou ‘distantes demais'”.
📚 2 de agosto – Sessão de autógrafos às 14h, no estande da com.tato, e participação na mesa “Todas as bússolas sempre apontam para o Norte? A literatura produzida no Norte do país”.
Narrativas que confrontam a romantização da floresta
Apesar de ser sua primeira incursão no conto, Myriam traz um repertório literário e crítico sólido. Vencedora do Prêmio Manaus de Literatura (2020) e com obras selecionadas pelo PNLD, sua escrita dialoga com autores como João Ubaldo Ribeiro e Milton Hatoum, mas com uma perspectiva fortemente enraizada no Norte:
“Manaus não é apenas cenário. É uma força que molda desejos e frustrações”, afirma.
A autora frisa que o livro não pretende romantizar a floresta nem reduzir seus personagens a vítimas passivas:
“Meus contos mostram a potência de quem vive na Amazônia, mas também as feridas deixadas por séculos de exploração.”
Em histórias como “Terra Prometida” e “O Soldado da Borracha”, os conflitos ambientais e sociais ganham forma sem abrir mão da individualidade de cada personagem. A obra, que levou sete anos para ser concluída, reflete tanto sua formação jurídica quanto literária:
“O Direito me ensinou a enxergar as estruturas de poder. A Literatura me deu as ferramentas para humanizá-las.”
Sobre o livro, por quem o apresenta
No texto de orelha, Thaís Campolina destaca:
“As personagens de Sol abrasador prepara solo fértil não são necessariamente migrantes, mas todas vivem os dilemas de estar, deixar ou voltar para Manaus. A cidade pode ser esperança ou frustração — tudo depende da época, do gênero, da classe, da origem.”
Já na apresentação, Bianca Santana reforça o compromisso da autora com um retrato não exótico da Amazônia:
“Essas personagens não são heroínas nem vítimas passivas. São mulheres inteiras, contraditórias, potentes — atravessadas pela seca, pela saudade, pelo amor, pelo desenvolvimento que nunca chegou.”
Sobre a autora
Myriam Scotti nasceu em 1981, em Manaus (AM). É mestre em Literatura pela PUC-SP e autora premiada. Seu romance “Terra Úmida” venceu o Prêmio Literário de Manaus 2020. Em 2021, publicou o juvenil “Quem chamarei de lar?” (Editora Pantograf), aprovado no PNLD e selecionado pela Biblioteca de São Paulo. Em 2023, lançou o livro de poemas “Receita para explodir bolos” (Editora Patuá). Foi finalista do Prêmio Pena de Ouro e segundo lugar na categoria conto do Prêmio Off Flip 2024.
Começou a escrever ainda na infância e tornou-se autora profissional em 2014, após o nascimento de sua filha. Atualmente, trabalha em dois novos romances — um com temática histórica e outro contemporâneo.