A cortina de ferro não conseguiu privar os amantes da música de toda efervescência que acontecia no ocidente. Pirataria incluiu discos feitos em chapas de raio x
No período stalinista (1922-1953) da União Soviética, toda música produzida no ocidente teve divulgação extremamente restrita. O regime fechado, no entanto, não impediu que gêneros musicais normalmente associados à “decadência capitalista do ocidente” fossem ouvidos. Discos de vinil de blues, jazz, rock, funk, r&b, soul, disco e latin-music eram disputados nas prateleiras e vitrolas dos mais apaixonados e afoitos para ouvir e dançar. Eram de certa forma proibidos. Por isso, muito raros.
Pouco após a morte de Joseph Stalin, com Nikita Krushev (1953-1964) à frente e pouco antes de Leonid Brejnev (1964-1982), aconteceu a incrível história dos jovens que pirateavam discos de jazz e rock reproduzindo os sons em chapas de raio X descartadas. Os que faziam esse tipo de pirataria eram chamados de stilyagi (algo parecido com o termo hipster hoje em dia).
Na verdade, o registro de áudio em chapas de raio X era um costume na Hungria dos tempos da Segunda Guerra, e surgiu em 1940. O material das rádios húngaras era gravado em goma-laca. Com o advento da guerra, tornou-se quase impossível a importações de goma-laca da Índia. A solução foi improvisar em chapas de raio X usadas e jogadas fora. Houve grande corrida aos hospitais de Budapeste e as rádios reproduziram por alguns anos com esta “mídia” inusitada.
Este hábito foi rapidamente assimilado pelos grupos stilyagi na URSS. Essa história pode ser conferida no filme russo Stilyagi (Valery Todorovsky, 2008).
Aos poucos o regime foi abrindo e cedendo. Sob Brejnev — por incrível que pareça, os chamados “anos gloriosos” do regime — nos anos 1970, já era possível ouvir vasto material de produção própria em todos os países que formavam a União Soviética, e também em todo o território que formava a cortina de ferro: Polônia, Hungria e Tchecoslováquia mais notadamente, além da famigerada Alemanha Oriental. Muitos grupos e orquestras se formaram e gravaram registros que hoje são raríssimos.
Esse emaranhado pop tendia ao funk/soul, em orquestras de maestros como Pavel Sysoyev, Victor Chizhova & Boris Baykov, Modo & Mikhail Vayner, Igor Petrenko, Alexander Zatsepin; grupos progressivos e jazz rock como Melodyia, Da/N’et, e Pomogite; e o rock mais pesado de Kino, Oborona e Zoopark, entre muitos outros.
Vale a pena conferir os sons do período.
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Ouça. Leia Assista:
Stilyagi (filme completo)
Matéria NPR sobre a “x ray music”
Ouça Soviet Funk
Matéria do Observador.pt sobre o filme Verão
Fun Funk Station (Rádio Cultura930) – especial soviet funk
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Fotos: reprodução
