Banda ajudou a definir o que viria a ser o punk rock e estabeleceu a figura mítica de Iggy Pop no universo da música
James Jewel Osterberg nasceu em 1947 na localidade de Ypsilanti, Michigan. Cresceu perambulando pelas ruas de Ann Arbor, nos arredores de Detroit. Não havia muito o que fazer na zona industrial mais emblemática da América em meados dos anos 1960, a menos que você trabalhasse em uma das fábricas de automóveis. Como disse certa vez Mick Jagger: o que pode fazer um garoto pobre senão cantar em uma banda de rock’n roll?
Em Ann Arbor, conheceu os caras com os quais veio a montar a banda. O baixista Dave Alexander, e os irmãos Ron e Scott Asheton, guitarrista e baterista respectivamente.
Era 1967, e os amigos se chamaram Psychedelic Stooges. Osterberg adotou o nome de Iggy Stooge. Os caras barbarizavam na cena rock da região, em shows especialmente realizados em ambientes universitários, junto com o MC5, outro grupo icônico de Detroit, até então conhecida musicalmente apenas pela Motown, gravadora de black music que dispensa apresentações, verdadeiro patrimônio da cidade.
Danny Fields, um executivo de A&R da gravadora Elektra foi enviado a Detroit para observar o MC5 em um show. Contratou o grupo, mas não conseguiu fechar os olhos para a performance dos Stooges na mesma noite, e levou Iggy e seus amigos para Nova York, com a promessa de um álbum, que seria produzido por John Cale, do Velvet Underground.
Pequeno problema: apesar do show arrasador, a banda não tinha repertório próprio suficiente para um LP. Apenas três canções estavam prontas. Fields trancou o grupo em um hotel e exigiu que completassem o disco com novas composições em dois dias.
Eles fizeram. E a coisa aconteceu. Em 1969, vai às lojas o autointitulado The Stooges. Duas faixas, I Wanna Be Your Dog e No Fun tornaram-se clássicos, emanando um som cru, nervoso e pungente, que anos depois veio a ser chamado de “proto-punk”. Um rock bruto e quente, com letras de absoluta insolência. Letras curtas, que se aproximavam de uma estética concreta.
Os Stooges eram destrutivos. Enérgicos e furiosos. Com Fun House (1970) e as performances magnéticas de Iggy no palco, garantiram o status de cult. Em 1973, o grupo lançou Raw Power, com a ajuda de produção de David Bowie, antes de se separar no ano seguinte.
Pelo mesmo ano, o crítico e escritor Lester Bangs descreveu: “Iggy and the Stooges, a última palavra em shock-rock. Você pode sentir repulsa por eles, pode não ser capaz de suportar uma única nota de sua música, mas eles são inegavelmente o som e a forma como o futuro aparenta”.
Após a separação, Iggy foi pirar em Berlim, onde estabeleceu fértil parceria com David Bowie, que o produziu no álbum The Idiot (1977) que colocaria Iggy Pop dentro da “santíssima trindade” do rock cool de todos os tempos, ao lado de Lou Reed e do próprio Bowie. Até hoje.
Em 2003, Iggy reuniu os Stooges no Coachella Valley Festival, com o ex-baixista do Minutemen, Mike Watt, substituindo Dave Alexander, que havia morrido em 1975. A recepção entusiástica que recebeu a banda levou a uma turnê de três anos por festivais na Ásia, Europa e América do Norte. Uma apresentação em Tóquio foi capturada para o álbum ao vivo Telluric Chaos (2005). Os Stooges voltaram ao estúdio pela primeira vez em mais de três décadas para gravar The Weirdness (2007).
Enquanto o álbum recebeu críticas decepcionantes, a turnê mundial de apoio apresentou o clássico Stooges para uma nova geração de fãs. Após a morte de Ron Asheton em 2009, o guitarrista James Williamson, que havia desempenhado um papel fundamental em Raw Power, voltou à banda, que posteriormente lançou Ready to Die (2013).
A morte de Scott Asheton em 2014, no entanto, parecia marcar um fim definitivo para a banda. Jim Jarmusch realizou o icônico documentário Gimme Danger (2016), sem dúvida o melhor material acerca dos Stooges.
Iggy lançou ainda o bem recebido Post Pop Depression (2016) e o mais atmosférico Free (2019). O grupo fora introduzido no Rock and Roll Hall of Fame em 2010, e Iggy Pop recebeu um Grammy pelo conjunto da obra em 2020.
Iggy Pop continua por aí. Se ele aparecer, não perca. Como disse Lester Bangs, ele é o futuro encarnado.
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Ouça. Leia. Assista:
The Stooges (1967)
Gimme Danger (2016), dir. Jim Jarmusch – trailer
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Imagens: reprodução