A Diego, o poema de Marcos Prado


MEXICO CITY, MEXICO - JUNE 22: Argentina player Diego Maradona outjumps England goalkeeper Peter Shilton to score with his 'Hand of God' goal as England defenders Kenny Sansom (top) Gary Stevens (c) and Terry Fenwick look on during the 1986 FIFA World Cup Quarter Final at the Azteca Stadium on June 22, 1986 in Mexico City, Mexico. (Photo by Allsport/Getty Images)

Este texto está sendo escrito com lágrimas de sangue. Das veias mais abertas da América Latina. Aos 60 anos de idade, morreu na província de Buenos Aires don Diego Armando Maradona, el Pibe.

Na ausência de palavras que o definam com perfeição, é preferível deixar aqui o poema mais belo já escrito sobre a arte de se jogar com os pés. O poema para a bola de futebol escrito por Marcos Prado (1961-1996). Afinal, poucos a trataram como ele.

Não se afobe com essa menina,
é preciso classe para dominá-la.
Calma, ela é que o ensina
onde se deve ou não tocá-la.

Por ter as formas perfeitas,
e os macios, simétricos gomos,
é mais carinhosa com quem a ajeita
do que quem a persegue como gnomos.

Apesar de ser o centro das atenções,
e ter poder sobre o mundo todo,
ela rola, humilde, entre as paixões,
exposta ao sol, à chuva, ao lodo.

Não se incomoda que a matem no peito,
que a chutem, que a dividam, que a isolem,
que a levem no bico, e, com efeito,
ela procura o ângulo que lhe escolhem.

Carente, ela também busca o abraço
daquele que melhor a encaixe,
do que a tem ao alcance do braço,
dona absoluta do seu passe.

Com o tempo, seus parceiros mudam.
Alguns, com ela, conseguem glória e dinheiro
e pensam que a dominam. Mas não se iludam:
ela sempre comemora o gol primeiro.

Esta é a bola, genial, feminina,
fascínio de quem defende e ataca.
Aos grossos, ela, cruel, fulmina.
Aos artistas, ela brinda o gol de placa.

(Marcos Prado)

Gracias, Diego.

Fotos: reprodução