Gostaria de começar dizendo que a vida não se resume em eleições, a vida é mais profunda que um processo democrático, um sufrágio universal ou um sistema político, em nossa vida atua a subjetividade e muito além da “lacrosfera” ou do portfólio da realidade que são as redes sociais, eles venceram e vai precisar de algo drástico para mudar isso.
Quando nos acostumamos com a vida, o dia a dia sem aquela pulsão de mudar as coisas, de agir sob nossos ímpetos, de sermos o que quisermos, eles venceram; quando a nossa vontade é dada aos desígnios de outra pessoa, um chefe, um parente, eles venceram; quando sentimos medo se manifestar nossa vontade, eles venceram; eles venceram porque nos acostumamos a vê-los vencendo.
O moralismo do “bem” nos pisoteia com uma força e assina de maneira tácita a vitória deles. Afinal a normalização daquilo que é desumano e anormal, impõe sobre todas as pessoas o medo, a mágoa, a surpresa e o infortúnio.
E não, polarização não é algo ruim, é o que move o mundo, é o diálogo, a diferença, é a democracia, é o que torna tudo e todas as pessoas seres racionais com capacidade de escolha, pois nem banho morno é bom quem dirá uma paixão ou um ideal.
É claro que estou falando do Brasil, independente do resultado das eleições, dentro de um processo histórico, perdeu-se no argumento, perdeu-se em acreditar que onde tem mulato não tem Hitler, perdeu-se no medo mais profundo de ser aquilo que se é, perdeu-se por ser reprimido apesar da bunda de fora no carnaval.
A política do medo, pior faceta do cristianismo, faz com que algumas pessoas acreditem que a sua família é a única forma moral de família, pois quando estamos no lodo é na família que encontramos guarida, apesar do desemprego, da fome, da doença e da violência, a família é o principal refugio depois dos males.
Eles venceram e o Brasil é fascista! Com uma cosmologia “proto-militar”, um mito fundador da ideia de uma ditadura algoz imposta pelos E.U.A, um guia moral que fala em nome de um deus que pune diferentes e faz com que aquilo que não se é igual, seja execrável, pois quando Deus abençoa, nenhuma política é páreo para o milagre. O fascismo se faz através da hegemonia, da aniquilação daquilo que é diferente, da mentira e principalmente da patrulha moral, onde até a ciência é contestada, como foi a Covid no Brasil.
Bolsonaro é o símbolo da pós-verdade, onde os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais e o nosso medo é a condescendência para que isso nunca acabe, estamos acostumados.
Vamos então falar sobre o humano. Todas as religiões falam da humanidade e ética das coisas, da luta pela vida acima de tudo e de todos, os ateus e agnósticos valorizam o empirismo, esse empirismo impõe também uma posição ética perante a vida.
No campo da política, liberais e conservadores, esquerda e direita, comunistas e anarquistas lutam por suas visões sobre a vida. Quando se tem um governo que coloca um “Brasil Acima de Todos”, esse governo está dizendo que a honra, a terra e a pátria está acima da vida, mata mais de 600mil, somem amigos e chama isso de fatalidade, tudo normalizado pois é a vida, e logo a sua, a minha e a nossa vida não valem uma posição política de um abjeto e desalmado.
Desalmado? A vida é uma causa perdida, todos nós temos que lutar para que algum dia não seja, essa luta imperiosa e urgente está além de chauvinismos políticos e nacionalistas de botequim, a vida não se resume em eleições, está onde dói uma saudade, onde todos possamos esperar dias melhores, para que todos nós possamos nos amar, eles venceram, mas nós vamos ganhar!