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Baseado no livro homônimo de Daphne du Maurier (este, por sua vez, acusado de ser um plágio de A Sucessora, da autora brasileira Carolina Nabuco), Rebecca foi o primeiro filme que Hitchcock fez nos Estados Unidos, em 1940. Sucesso instantâneo de crítica, a obra foi indicada a onze Oscar e venceu dois, Melhor Filme e Melhor Fotografia.
Um fato curioso é que jamais vemos o personagem que dá nome ao filme. Rebecca está morta há anos, mas parece ainda viver nos vastos cômodos de Manderley, a mansão da família de seu marido, Maxim de Winter. A trama se inicia em Monte Carlo, quando Maxim, agora um solitário bom vivant, conhece uma garota simples e atrapalhada que trabalhava para uma velha aristocrata. Nem chegamos a saber o nome da menina: em poucos dias ela aceita se tornar Mrs. De Winter, esposa de Maxim. Sem saber do passado terrível que assombra a casa, a esposa novata terá de se adaptar a um mundo completamente estranho a sua realidade.
Hitchcock podia ser o mestre do suspense, mas nunca teve grandes inclinações filosóficas. Seus filmes normalmente não têm caráter reflexivo, e Rebecca não é exceção.Apesar disso, há outras formas de criar profundidade no cinema. Aqui, Hitchcock nos faz ver a difícil realidade da esposa novata, incapaz de competir com uma morta. Cercada de luxos – e até mesmo de amor – sua vida é uma miséria. O personagem é real, e isso basta. A governanta, interpretada por Judith Anderson, serve de contraponto: séria, repleta dos preconceitos de classe dos patrões, é o ódio personificado. Anderson consegue transmitir tudo isso com um olhar e um educadíssimo “sim, Mrs. De Winter”. Sua bagagem teatral certamente contribui para isso. O filme inteiro, por sinal, é um pouco teatral, as atuações bastante expressivas para a tradição anglófona. Funciona muito bem. Como qualquer filme de Hitchcock, Rebecca tem suas surpresas, e não são poucas.