24 horas

ColunistadaCultura,

Quem é a pessoa mais criativa que você conhece?

Responde aí. Qual primeira pessoa que lhe vem à cabeça?

Talvez você tenha dito grandes nomes de pintores ou músicos ou escritores. Talvez grandes astros da frente ou de trás das telas do cinema e TV. Talvez tenha se lembrado de inventores, os grandes nomes que mudaram a história do mundo.

Uma vez, em sala de aula, a primeira resposta que veio a essa pergunta foi “Papa Francisco”. Achei fantástico esse olhar “fora da caixa”.

Mas muito raramente (ouso dizer, nunca) a resposta que vem é “eu mesmo”.

Talvez neste exato momento você esteja pensando: “eu? Criativo? Ah! Isso não é para mim”.

Frases como “eu não sou bom nas artes, não sou criativo”; “nunca me dei bem com isso, não nasci com esse dom”; “nunca criei ou inventei nada, não sou criativo”; ou “acho lindo essas pessoas que, no nada, têm uma ideia criativa, comigo não é assim”, que foram repetidas diversas vezes por diversas pessoas mundo afora, é que reforçam esse tipo de pensamento, quase que numa dinâmica de bola de neve.

A grande questão é que existe, sim, a criatividade artística, a criatividade nata (que vemos claramente nos bebês e nas crianças), a criatividade dos inventores. Existe ainda aquele momento “a-ha” ou “eureka”, dos insights que parecem que baixam na gente quase que vindos do além.

Mas na prática mesmo, essas são apenas algumas poucas expressões da criatividade. Da criatividade enquanto habilidade humana. E como tal, praticável e desenvolvível (será que existe mesmo essa palavra?).

Assim, tenho que te contar que existem ainda muitas outras formas de ser criativo, que não pintar um quadro ou inventar a lâmpada. Na prática, a criatividade pode estar presente em qualquer lugar, pasme, onde exista um problema. Sim, você leu certo, um problema!

Arquitetos podem resolver criativamente problemas de espaço. Programadores podem resolver criativamente problemas computacionais. Mães podem resolver criativamente problemas da alimentação saudável dos filhos que, mesmo sem provar, dizem que não querem os legumes.

Em resumo, um problema é qualquer coisa que demande solução. E a criatividade é o uso da imaginação aplicada como ferramenta para entregar uma solução diferente do comum, que não apenas resolva o problema, mas gere valor adicional.

Agora você pode estar pensando “legal, Vivian, mas o que eu faço com essa informação?”

Isso me faz lembrar de uma provocação incrível que eu e meu amigo e colega de passador de slides, Luiz Francisco Polli, fizemos em uma aula de criatividade:

 

Alguém até pode ser “mais criativo” que você. O que você pode fazer em relação a isso?
NADA!
Como uma habilidade, você pode exercitar a sua criatividade. O que você pode fazer em relação a isso?
TUDO!

 

Já contei por aqui da minha admiração pela Liz Gilbert, escritora, autora de grandes sucessos como Comer, Rezar, Amar e Grande Magia– Vida Criativa sem Medo. Neste último livro, ela conta que “sabia que o sucesso convencional tradicional dependeria de três fatores – talento, sorte e disciplina”. Liz tinha bem claro para si que não havia nada que ela pudesse fazer em relação a talento e sorte, mas a questão da disciplina estava 100% em suas mãos. Então, ela se comprometeu a escrever todos os dias, por pelo menos 30 minutos. E quando diz “todos os dias”, ela quer realmente dizer t-o-d-o-s-o-s-d-i-a-s, sem pausas, sem folgas, sem finais de semana ou feriados.

Não pense, no entanto, que todos os dias ela estava inspirada, se sentindo a fonte viva da criatividade, não. Havia dias que só o que ela via era aquela folha em branco em sua frente e o vazio em sua mente. Então, o que ela fazia era escrever exatamente sobre isso: sobre a falta de assunto para escrever, sobre a falta de vontade em escrever… Mas todos os dias ela estava lá, fazendo a parte dela. E assim, foi desenvolvendo sua habilidade, sua capacidade e descobrindo os caminhos para acessarsua inspiração.

Outra pessoa que eu tenho profunda admiração é Albert Einstein (acho que o fato de termos nascido no mesmo dia, 14/03, criou uma conexão profunda entre nós – quem ousa dizer que não?!). Sempre fiquei muito impressionada com tudo o que ele criou e todas as suas contribuições para o mundo da ciência. Como uma única pessoa pode criar tanto? O que eu não sabia até pouco tempo atrás é que ele trabalhou por muitos anos com propriedade intelectual. Ele passava o dia inteiro em contato com os depósitos de patente, comparando ideias e invenções para validar se as propostas eram mesmo inovadoras. Haja repertório inovador e conhecimento diversificado!

Talvez, novamente, você esteja pensando “legal, Vivian, mas o que eu faço com mais essas informações?”

Bom, minha dica é: aprenda com elas e exercite a sua criatividade. Invista tempo para alimentar essa sua habilidade e se empodere como ser criativo.

“Lembre-se, há uma energia criativa querendo se expressar através de você”, nos incentiva Julia Cameron em seu inspirador O Caminho do Artista (1992). O livro é a organização de um programa de 12 semanas, com 12 seções, cada uma delas lidando com um tema específico para desbloquear o criativo que habita em nós. Em cada semana, os sensos de segurança, identidade, poder, integridade, possibilidade, abundância, conexão, força, compaixão, autoproteção, autonomia e fé vão sendo trabalhados e recuperados, com inspirações, exercícios práticos e indicações de quão desafiador poderá ser cada parte da jornada. Parece mesmo que a Julia nos pega pela mão e nos conduz, como uma sábia, inspirada e acessível mentora, nesse processo de libertação criativa.

Pausa dramática para uma perguntinha rápida: você sabe o que eu, você e o Bill Gates temos em comum?

Pense aí. Qual a conexão que (mesmo sem saber nada sobre você) eu poderia afirmar que nos conecta?

Se você prestou atenção ao título deste texto, já sabe… E a resposta é mesmo bem simples: o dia de nós três tem 24 horas.

E se ele dá conta de ter tempo para ter ideias, criar projetos, inventar modas e resolver problemas criativamente, eu e você também damos.

“A criatividade é como capim – volta a crescer com um mínimo de cuidado”, avisa Julia Cameron, logo no início do livro.

Então, se quer começar a se sentir criativo, faça isso: separe na sua agenda 5, 10, 30 minutos todos os dias (t-o-d-o-s-o-s-d-i-a-s) para se dedicar conscientemente e ativamente ao desenvolvimento da sua própria criatividade.

E, para não te deixar sozinho nessa jornada, aí vão algumas dicas de atividades que podem te ajudar a exercitar o lado criativo do seu cérebro:

  • Pesquise na internet “soluções criativas” e se divirta explorando os resultados;
  • Pense em formas de resolver problemasque sejam diferentes do tradicional, os seus próprios e o os problemas de outras pessoas, conhecidas ou desconhecidas – não pare na primeira resposta certa, busque duas, três, dez maneiras de solucionar essas questões;
  • Pense em qual o problema por trás de produtos e serviços que você utiliza ou de propagandas que assistir – o que eles resolvem ou que poderiam resolver? Qual outra aplicação você poderia dar a esses produtos e serviços?;
  • Procure conhecer as tendências e inovações das diferentes áreas – o que está sendo desenvolvido para melhorar a saúde da população? Quais as novidades do agronegócio? Quais novos materiais estão sendo utilizados na construção civil?;
  • Leia muito, leia de tudo e leia a biografia de pessoas que considera criativas– busque entender de onde vem essa criatividade toda, o que essas pessoas faziam;
  • Por fim, se ainda não leu, confira as dicas de criatividade deste outro texto que publiquei aqui: https://www.radioculturadecuritiba.art.br/adeus-criatividade-que-ja-nao-habita-mais-em-nos/

Aprenda, exercite, se empodere. Seja criativo. Você pode.